Jota Há
Tempos...muito
tempo já são passados!
Mas ainda me
recordo nitidamente daquela tarde.
Era Domingo!
Gravei-o com
facilidade porque era Domingo de Páscoa.
Não sei exactamente
às horas, imagino que fossem mais ou menos cinco horas, cinco e meia
por aí, é ...por aí.
estava eu
dirigindo-me para uma vila, vila essa divisória com a que eu morava,
distância tão pequena que eu estava folgadamente fazendo o percurso
a pé.
Estava um tanto
absorto, meu estado psicológico não estava lá grandes coisas .
Foi quando, na
calçada, no sentido oposto ao meu, surgiu uma moça, notei-a
obsedada; maltrapilha e suja, tinha os cabelos pretos, lisos ,
longos e emaranhados .
Até aí, nada demais
.
Pessoas assim neste
estado de miséria e perturbação, em cidades grandes, nós as
encontramos a todo momento, nas ruas.
O curioso da
história é que , essa moça, por distracção, ou pelo seu estado
psíquico ou por atracção, abalroou-me na rua, foi um tremendo
esbarrão, fiquei assustado, confesso, a moça, desculpando-se, disse:
Quase sorri; mas,
percebendo o trágico da situação, tive dó.
Prossegui andando,
intrigado com a frase desconexa: "meu noivo querido"
Então pensei, quase
com volúpia, na noiva que há muitos anos me acompanha...Mais do que
a própria sombra, ela uniu-se a mim, desde o dia do meu
nascimento...
O ardor dos
sentimentos fundiu nossas vidas, entrelaçando dois destinos por
milhões de filamentos nervosos, enraizados...
Unidos, vamos pela
vida a fora, gozando os mesmos prazeres, sofrendo mágoas e
guardando, como requintados demoníacos, as lágrimas choradas no
silêncio das noites intérminas...
É uma noiva fiel e
que confia em mim.
Aliás ela sabe
disso; jamais nos separaremos.
No futuro,
estaremos juntinhos, palmilhando outros caminhos...talvez o caminho
do Amor...
A pobre obsedada
que foi gentil comigo, não terá, pois, o meu amor.
Sou fiel àquela que
achou por bem se tornar minha noiva, para todo o sempre...
Mesmo que o Mundo
vier a desabar sobre nós dois, estaremos ainda juntinhos; dos
escombros, sairemos triunfantes, para enfrentarmos outras vidas!
Os versos
amargurados que escrevi chorando, inspirados no nosso noivado,
guardam o calor de outrora...
Creio mesmo que é
por acréscimo de misericórdia que estamos juntos...
Eu sou tão
mau, caprichoso e inconstante; ela, não.
É constante,
dedicada, sabe como dominar o fraco e o forte; e o seu poder sobre
todas as coisas do mundo é grande...
Afinal de contas,
foi ela que, com o seu amor fanático, guiou os meus passos...e é
graças a este amor que pretendo ser forte e enfrentar as
intempéries da vida .
Devo-lhe a força do
carácter que robustece o meu coração.
Por tudo eu
bendirei para sempre o nome dessa noiva querida!
Minha noiva querida
se chama : Solidão!...
O verdadeiro nome
da moça que me esbarrou naquele dia nunca eu soube, muito tempo
depois descobri sua origem, cheguei mesmo a conversar com ela por
algumas vezes, porém todos já a conheciam como:
"Maria Do Jabá"
"Erasmo de
Rotterdam"
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Formatação & Imagens Cecília Rodrigues
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