Carita colada na montra,
Olhitos piscando ilusões…
A criança sonhos encontra
Nas cores dos garridos balões.
As luzes lá dentro chamando,
Senhoras olhando e sorrindo,
Seu peito d’anseios arfando
Olhos das órbitas saindo…
Aquela criança esperava
Que o Natal chegasse depressa,
E a fé que ainda guardava,
Em casa, a seu pai a confessa.
O comboio, o carro ou a bola,
O boneco tocando tambor,
Ou até aquela sacola
P’ra brincar d’enfermeiro ou doutor ...
Talvez o bombo, a guitarra,
O jipe de cor amarela…
O mago com a cimitarra
Ou o barco de branca vela…
Na escola portara-se bem,
Cumprira com as obrigações,
Não brigara sequer com ninguém
E a Jesus rezara orações…
Bailavam lhe ideias na mente
Naquele natal desejado,
Planeando que, finalmente,
Teria o presente almejado.
Chega a noite tão esperada
Com a esp’rança mantida em pé…
Lá põe a botita estragada,
Rezando … Junto da chaminé.
À noite sucede-lhe o dia…
Ouvem-se os sinos na aldeia…
A fé à criança fugia
E o choro se desencadeia.
Tristonho, sentado na mesa,
Olhando o peru sem recheio
E na mais profunda tristeza…
Aponta p’rá bota, chorando,
E diz para o pai, soluçando...
Papá… o Pai Natal não veio!
Ele é feio, feio, feio!
Albertino Galvão
Portugal