Joaquim Sustelo
(editado em RAIOS DE LUZ)
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CRIANÇAS
Crianças tão lindas
Que vão para a Escola
De graças infindas
De pasta ou sacola
Eu gosto de as ver
Passar aos saltinhos
Cantando e a correr
Como os passarinhos
E fico a pensar
Naquelas idades
Ponho-me a sonhar
E sinto saudades
Saudades de quando
Era pequenino
Pois sendo já homem
Sinto-me menino.
Joaquim Sustelo
(em No Silêncio do Tempo
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MENINOS
Meninos que correm, brincam,
Lançam o seu pião...
Voa, saltando da mão,
Rolando co'a morte que fintam
Saltitam por entre escombros,
Escondendo em esgotos escuros
Seus pensamentos obscuros,
Tontos, cheios de assombros...
Noites de devastidão,
Em que sentem o pavor;
Nem mesmo o seu «Senhor»
Lhes acalma o coração...
Dias melhores, esperas em vão,
Sem doenças, sofrimentos,
Sem gritos e sem lamentos,
Tendo todos o seu pão...
Meninos sem alegria
Sonham castelos de luar,
Nocturnos... de encantar...
Levados co'o nascer do dia
DEDICADO A TODAS AS CRIANÇAS DESTE CONTURBADO MUNDO
Júlia Molico
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A MADELEINE, QUE FAZ HOJE 4 ANINHOS
(criança desaparecida desde o dia 3, de um
apartamento
onde passava férias com os pais e os irmãos, na
Praia da
Luz - Lagos)
Hoje fazes quatro anos... lá por onde
Quiseram que estivesses tão perdida...
Com medo, junto ao monstro que te esconde
E que te dá tão duro o fel da vida!
Nos céus há uma estranha nuvem preta
Que o tempo não dissipa de momento;
Há sombras e ruídos de grilheta,
Lamúrias são trazidas pelo vento...
E em vez de bolo e velas pela mesa
Em parabéns de amigos e família,
Há velas de esperança e de tristeza
Na igreja onde se faz uma vigília...
Regressa Madeleine, o dia é hoje!
Ilude a vigilância dos chacais!
Não sabes o caminho? Deixa... foge!
Há sempre uma alma boa que te aloje
E dê do teu sorriso outros sinais.
Joaquim Sustelo
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MADELEINE
(criança de 3 anos desaparecida há 4 dias num
empreendimento da Praia da Luz - Lagos)
Aflui à tua alma um sonho suave,
A vida se afigura tão perene!
Porém a noite é triste, há quem o trave
Roubando-te esse sonho, Madeleine!
Não há sinais de ti, nem um aceno...
O tempo enrola o medo, de tão grave!
Há um monstro sem rosto no terreno
Há portas que se fecham sem ter chave!
Sabe ele a dor dum pai? Ou duma mãe?
Conhece uma família que por bem
Partilha o seu amor a toda a hora?
Não sabe dar valor, ah não, decerto!
Mas oiça o nosso apelo: está por perto...
- Liberte esse anjo lindo! Já! Agora!
Joaquim Sustelo
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Roubaram uma Estrela...
Nesta inexorável tristeza...
Apenas um lamento...
Roubaram uma Estrela...
Procuro a mais cara palavra
Que defina este momento...
Roubaram uma estrela...
Mas não o brilho de um olhar que implora ...
Venham-me ajudar!
São milhares que reverenciam
Em especial atenção...
Incrédulos, na Esperança viva
do bem...da Redenção....
Porquê, tudo isto acontece...?
Não há resposta plausível...
Apenas cobardes, humanos...
roubam sorrisos inocentes...
Mas a cobardia não lhes importa ...
apenas, atravessam a porta ...
e roubam Anjos, de seus pais...
Armadilhas, na calada da noite
ao invés de sonhos, apenas açoite...
Por onde andarão os teus ais?
Por onde andarão, outros ais ?
de tantos meninos sofredores
que herdaram da vida só horrores...
Num atordoado silêncio sem cais...
Um temporal de almas e dores...
Buscam um tempo que hajam flores ...
Onde abraços e beijos sejam reais ...
Cecília Rodrigues
Maio_2007
Para Madeleine ...e outros Anjos desaparecidos...
onde estarão, estes Anjos?
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Que
dia da criança?
Passo por ti,
Numa rua qualquer,
De uma cidade qualquer,
Que poderia ser do meu País.
Os teus olhos,
De inocência,
Grandes e doces...
De olhar de pesar,
Fitam-me, com réstias de esperança.
Fraquejo, e desvio o olhar
Por momentos...
Alternando,
Perdido, no chão que piso.
Insistes, com o teu olhar
Triste e suplicante.
De cara suja,
De lágrimas roliças.
De cabelo sujo e revolto.
De roupas gastas,
E descalço
Estendes a mão...
De mão estendida,
Suplicas,
por uma esmola...
do tamanho do teu pequeno mundo,
da tua curta vida,
e da minha grande indiferença.
Passo por ti,
De ar indiferente,
De coração pesado,
De vergonha.
Descalço
E calção roto,
De cara suja,
Acompanhas-me
De mão estendida,
Numa ladainha de miséria,
Suplicas...
Uma esmola,
Uma moeda,
Perdido e só, no mundo
Sem eira nem beira,
Apenas com a esperança, como companheira.
Cada passo que dou,
Mais a vergonha me pesa.
Não são as moedas,
Nem um bocado de pão
Que me alivia.
Nem a vergonha que sinto,
Nem a indiferença que mostro
É uma raiva, contida
Como os soluços, que abafas
Em sonhos de criança.
Numa rua qualquer,
De uma cidade qualquer,
Que podia ser do meu País,
Passo por ti.
De mão estendida,
Choras a vida desmedida
A amargura do teu fado,
E eu passo ao lado...
Indiferente...
Quantas crianças...
Quantas vidas...
E quanta indiferença
Tal o egoísmo,
Que nasceu em nós.
No teu dia de criança
Nasce a esperança.
Em mim,
Apenas lembrança.
Augusto P.Gil®
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