INCONTROLÁVEIS 
  DESEJOS
  
  
  As fantasias rodopiam, giram obscenas, obscuras,
  voam, povoam as mantas
  das noites escuras,
  libero-me nesse devaneio,
  minhas sensações deliram sem medo, sem rodeio,
  abrindo a cortina das emoções;
  O pensamento devassando instantes, constantes,
  dos incontroláveis desejos mutantes,
  vividos nas tórridas horas da vida,
  espreguiço-me entre braços e abraços da paixão,
  perco-me nas bocas de hortelã e anis,
  arrepio-me no resvalar das madeixas,
  enrolado na cama dos desejos,
  sinto os arrebatadores beijos,
  não há reclamos, não há queixas,
  o prazer subjuga a razão,
  feito o sol rasgando o véu da noite,
  o mar no cio, furioso no açoite
  sugando, engolindo, a alva areia da praia,
  um grito no infinito, acende a chama
  que queima, consome num breve segundo
  o desejo incontido,
  até a erupção do vulcão, 
  a lava escorre, quente, fervente,
  num suspiro agudo, profundo,
  saciando cada pedaço do corpo,
  que fica flutuando no espaço sideral
  a espera de outro vendaval.
  Queria esses dias, todos os dias,
  mas não posso devanear assim,
  porque me perco entre tantas marias...
  
  ANDRADE JORGE
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