Mais uma vez...vos apresento esta mulher simples de 76 anos ...que escreve maravilhas ...trazida até nós ( Mundo Poético , virtual e real ) como ia dizendo , trazida pela mão do amigo poeta , Joaquim Sustelo, amigo de longa data desta autora , que guarda em suas gavetas , resmas de poemas  lindos , sem nunca ter conseguido, ajuda para sua divulgação.

Bastou uma simples explicação sobre o que seria uma coroa de sonetos ...e lá vem ela com estas maravilhas ...

Por: Joaquim Sustelo

(Para quem não saiba, uma coroa de sonetos é composta por 14 sonetos,

em que cada soneto começa com o último verso do soneto anterior.

E em que o 14º soneto termina com o mesmo verso que deu início à coroa (1º verso do 1º soneto).

Isto é, a coroa dá a volta e acaba como começou).

(Este tema,  foi sugerido pela amiga Lisdália para fazermos - eu e ela - uma coroa de sonetos.

 

Já em outra página Cecy & poemas publicou aquele que foi sua primeira coroa de sonetos ...onde poderão ver no menu da autora _ Desta vez, foi ela a lançar o mote ...aqui vos deixo para vossa leitura , Duas maravilhas ...

" Lisdália dos Santos __ "Joaquim Sustelo"

Comentário: Cecília Rodrigues

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Clique _ Se o coração falasse _  Joaquim Sustelo_

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SE O CORAÇÃO FALASSE, O QUE DIRIA?

 

(COROA DE SONETOS)

 Lisdália dos Santos

Portugal


I

 

Se o coração falasse, o que diria
De ti, também de mim... de nós os dois?
Do tempo que passou em euforia
Da juventude, mais quente que mil sóis?

 


A nossa ado1escência foi tão linda!
Flor a desabrochar na Primavera...
Não sei se te recordas... hoje ainda
Me salta aos olhos, uma lágrima de cera

 


O tempo por nós passa, indiferente...
Já não nos olha, feliz e sorridente
Como outrora, na nossa mocidade

 


Quando me namoravas à janela
E a lua lá no alto, de sentinela,
Espreitava-nos com certa curiosidade...

 


II

 

Espreitava-nos com certa curiosidade
Que às vezes nos fazia aborrecer
Aquela insuportável claridade
Que nem a nuvem fazia escurecer

 


Falavas para mim, sempre baixinho
Como que a sussurrar ao meu ouvido
Roubavas-me à socapa o tal beijinho
Um tanto descarado e atrevido

 


E eu...  eu simplesmente envergonhada
Sentia-me por ti apaixonada
Não ousando dizer o que sentia

 


Em silêncio guardava o sentimento
Desse amor arrebatado e violento
Que, somente tu... e eu o entendia.

 

 

III

 

Que, somente tu... e eu o entendia
Trocávamos olhares, num sorriso
Ás vezes numa onda fugidia
Esconder bem esse amor, era preciso

 


Passavas pela rua onde eu morava
Olhava-te através duma janela
Terna, silenciosa, eu te mirava
E tudo só, mas só à escapadela

 


Recordo as serenatas... que saudade!
Os sons do bandolim, o à-vontade
Com que na noite cantavas para mim...

 


Meu coração pulsava, disparado
E eu em pé, atrás do cortinado
Envolta no meu robe de cetim...

 


IV

 

Envolta no meu robe de cetim
Numa respiração mais ofegante
Porque teria então de ser assim,
Não me poder mostrar ao meu galante?

 


As regras de respeito... autoridade!
De pais conservadores, com limite!
Hoje é tudo diferente, há liberdade
Mas oh...talvez de mais! Tudo se admite...

 


Será melhor? Pior? Não sei dizer...
Só sei que Não há nada a esconder
Até o respeitinho, anda arredio

 


Tempos que foram... e não voltam mais!
Foram em bando, qual o de pardais
Ou como águas passadas noutro rio...

 


V


Ou como águas passadas noutro rio
Rumando em direcção ao Oceano
Embora aqui, ali, algum desvio
Talvez que nem fizesse perca ou dano

 


Voltar atrás, à minha mocidade
É dar um alimento ao coração
Lembrar o nosso amor, uma saudade!
Que hoje partilho a sós, sem solução

 


Cartas que recebi, declarações!
Com poemas bem ternos, inspirações...
Que eu os baptizava por "fachada"

 


Frases bonitas, com palavras meigas
Que para mim, apenas eram leigas
Pois nada me diziam, mesmo nada!

 


VI

 

Pois nada me diziam, mesmo nada
Só porque o nosso amor era mais forte
Nem mesmo vindo o vento de rajada
A nossa direcção foi sempre o norte

 


Jamais esquecerei o teu olhar
O brilho com que olhavas para mim
Era sol de primavera a despontar
Ou talvez, direi...  lâmpada de Aladim

 


Havia aqueles bailes domingueiros
Em que dos pais, atentos e ordeiros,
Era necessária especial autorização...

 


Ia o pai, e a mãe que nos guardava
E a recomendação que não faltava
Às vezes nesse tom de repressão...

 


VII

 

Às vezes, nesse tom de repressão
De olhos bem atentos, em redor
Como que a nos dar a protecção
De estarmos sob as ordens dum senhor

 


Vestia-se um vestido, à maneira!
Cabelo de permanente, arranjadinho!
Mais se parecia uma fada feiticeira
Calçava-se o mais novo sapatinho!

 


Preferência salto alto, pra dançar
O harmónio já soava, vinha o par
Aceno de cabeça... "a menina dança?"

 


Era a valsa, era o tango, o corridinho
Ao compasso do passo mais certinho
Realçava a alegria e a pujança.

 

 

VIII

 

Realçava a alegria e a pujança
Os rapazes bem vestidos, perfumados
Em cada coração nadava a esperança
De quantos, quantos pares, de namorados?!

 


A vida sem amor, não faz sentido
É como a noite escura, sem luar
Ou barco sem arrais, no mar perdido
Em ondas de repulsa a naufragar

 


Amar sem ser amado, é dor cruel
Como beber na taça, amargo fel
Que uma vida nefasta nos condena

 


Amar! Doce ventura, doce ilusão!
Remédio santo para o coração!
Senti-lo bem mais leve que uma pena!

 


IX


Senti-lo bem mais leve que uma pena
Voar, subir ao alto, correr mundo
Feita uma pomba livre, em tarde amena
Olhando o horizonte, lá ao fundo...


 

Os anos passam, fica-nos a história
Que marca uma vida em movimento
Umas de insucesso, outras de glória,
Num rol de aventuras contra o vento

 


A dor, o sofrimento, a solidão
A lágrima que toca o coração
Que tudo nos derruba sem demora

 


Fechados num tal mundo que é só nosso
De que qu'ria afastar-me, mas não posso
E a sociedade... apenas nos ignora.

 


X

 

E a sociedade... apenas nos ignora
Pesado fardo, somos, pra Nação
Já trabalhámos duro, sem ter hora
Para que um dia não faltasse o pão

 


Saboreei o doce e amargo duma vida
Durante o tempo que pra atrás deixei
Página negra que por mim foi lida
Por muito que eu viva não a esquecerei

 


Tudo me coube, o bem e o mal
Tempo de bonança e de vendaval
Mas eu superei, dou graças a Deus

 


Sonhei voar alto, sem mesmo ter asas
Caí num braseiro, no meio das brasas,
Ficaram os sonhos que foram só meus.

 


XI

 

Ficaram os sonhos que foram só meus
Desde a adolescência à maioridade
Sem me ter sentado no banco dos réus
Fui uma condenada desde a mocidade

 


Lutei pela vida, mas nao fui guerreira
Do meu simples barco, só eu fui arrais
Nunca me assumi fada feiticeira
E ainda amainei alguns temporais

 


Ninguém mais do que eu sabe avaliar
Já tudo passou, pra quê revelar?
Fechei o baú das recordações

 


Já perdi a chave, não o posso abrir
Do fundo do mar, não vai emergir
Não há que haver choro, nem lamentações.

 


XII


Não há que haver choro, nem lamentações
Olhos que choram, são olhos que secam
Que não haja lágrimas, nem emoções!
Só as carpideiras ao fazê-lo, pecam

 


A vida é só uma, há que a estimar
Trabalha e ama ! Sonha e procria!
Faz mais por ela, para a desfrutar
Procura parceiro! Vive em alegria!

 


Consulta o coração! Deixá-lo bater...
Um simples olhar faz transparecer
A tristeza, a dor, íntima aparência

 


Se o sentes cansado, deixa-o descansar
Se o sentes dorido, se há-de revelar
Ele é tua vida... a tua existência.

 


XIII

 

Ele é tua vida... a tua existência
Se cantas, se choras, só ele te entende
Faz para que o sintas livre de carência
Escuta-o a sós, que te compreende

 


Ouvirás a voz do teu sentimento
Presta-lhe atenção, ela vem da alma
Numa doce brisa, fresca, em movimento
Como leve pena, suave te acalma

 


Hoje posso dizer-te que só o amor
Nasce, cresce, murcha, como uma flor
O meu já morreu, não há solução

 


Os anos passaram, o vento o levou
Palavras d’amor,  quantas me deixou?
Saudosa recordo a nossa paixão.

 

 

XIV


Saudosa recordo a nossa paixão
Que um dia nasceu... calor de mil sóis
Hoje o que me rege é a solidão
Já nada existe... entre nós os dois!

 


A lua no céu me olha de revés
Já nem me conhece, não é mais aquela...
Será que se lembra daquilo que fez?
Espreitar os amores que via à janela?

 


Vestida de branco vagueia no céu
Dá a volta ao mundo, todo ele é seu
Umas vezes cheia, outras tão vazia!...

 


Mas vai espreitando os apaixonados
Nos jardins à noite, num banco sentados,
Se o coração falasse... o que diria?

 

Lisdália Viegas dos Santos

Também publicado em Ecos da Poesia

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