A Sinfonia do Amor

Coroa de sonetos _ 14 sonetos

1


Eu sou a brisa do poema errante
Que ando perdida em busca do amor
Nas asas do vento, num som ondulante
Hino musical, no seu esplendor

 

No espaço celeste rasgo a fantasia
Ao sol, às estrelas, e até ao luar
No meu peito albergo minha ousadia
Em sonhos deliro para te encontrar

 

Musicando os versos que para ti fiz
Tão doces, tão ternos, alma de raiz
Do meu coração brota a sinfonia

 

Sinto-me rolar em densa cascata
Por entre algas verdes, nas águas de prata
Em redemoinhos de eterna magia.


2


Em redemoinhos de eterna magia
Caminho pró mar em casca de noz
Num desespero, de angústia sombria,
Afogo o meu grito, calo a minha voz

 

Navego ao sabor da vaga ondulante
Mas no coração levo o meu amor
Para te ofertar ó meu terno amante!
Pudera eu amar-te sem trégua nem dor...

 

A maré vazia te deixa mais longe…
Na areia fina fico feita monge
Rezando por ti nas contas do terço

 

Embalo o meu sonho no peito dorido
Baixinho te canto junto ao teu ouvido
Enquanto tu dormes em suposto berço.


3


Enquanto tu dormes em suposto berço
Eu canto baladas de amor e ternura
Bordo no lençol o mais lindo verso
Nas cores de esperança, na mais doce jura

 

E à noite ao luar estou de sentinela
Ambos retratados pela mesma lua
Sabes, meu amor… vou mandar por ela
A boca faminta,  pra juntar à tua

 

A noite vai alta, é tardia a hora…
Esperarei por ti no raiar da aurora
Na maré enchente, pelo madrugar…

 

O meu coração, de si tão senhor,
Transborda alegria. Coragem amor!
De braços abertos te vou abraçar.


4


De braços abertos te vou abraçar
Num enleio profundo de terna magia
Se Deus nos deu vida não foi para amar?
Vela florescente que mais alumia!

 

No teu doce olhar, há paz e bonança
Quanto ao mar bravio ficou para trás
Fizera de ti a mais débil criança
Mas ele é teu mundo, tu lá voltarás

 

Na farda aprumado tu és o primeiro
Audaz e valente, nato marinheiro
Envolto em segredos das vagas em espuma

 

Sob o céu azul comandas a frota
Teu olhar se perde no voo da gaivota
Guardas as tormentas no peito, uma a uma.


5


Guardas as tormentas no peito, uma a uma
Que trazes pra terra no teu coração
Sem que tu consintas que te escape alguma
És o meu orgulho e até presunção

 

Eu te valorizo, fiel servidor
Da Pátria querida, do mar lés a lés
És o meu gigante, grande Adamastor
Embora não queiras, eu sei bem que o és

 

Há uma mulher que espera por ti
Que canta, que chora, mas feliz sorri
Por ver o seu bem ao ninho voltar

 

De tez bronzeada, de punho valente
De olhos lacrimosos, puro comovente
Lábios cascarrudos, queimados plo mar.


6


Lábios cascarrudos, queimados plo mar
Salgados mas doces, famintos de amor
Beijos femininos te irão saciar
Da sede e da fome, meu bem sedutor

 

Em vale de lençóis de linho ou cambraia
Me vem ao sentido o primeiro beijo
Onde te conheci, algures na praia
Saudosa estou… morta de desejo…

 

Mas hoje voltaste, estás a meu lado
O mar com ciúme ficou tresloucado
Chamando por ti numa fúria louca

 

Mas tu és tão meu! Não queiras voltar!
Não me deixes só! Não quero chorar!
Esta noite a mim,  me fora tão pouca!...


7


Esta noite a mim, me fora tão pouca!
Quisera meu Deus, não amanhecesse!
A vaga mais alta do mar, ficou louca
E homem de “duas”, a mim me enlouquece

 

Não posso! Não quero! Não vou perdoar
Que a vaga me traia sem compreensão!
Vou rogar ao Céu pra que amaine o mar
Que tu amor voltes, morra a solidão!

 

Entre nós, meu bem, há uma barreira
Que nos faz separar para a vida inteira
É cruel, desumano, assaz galopante!

 

Sobra uma cadeira sempre à nossa mesa
À qual os meus olhos com certa frieza
Procuram no vácuo o seu terno amante.


8.


Procuram no vácuo o seu terno amante
Em requebros as gaivotas, num doce voar,
Assim serei eu, no caminho errante
Sem que na terra te possa encontrar

 

Versando pra ti… poema a poema…
Sinfonia de amor, dum amor sem fim,
Com o coração preso a uma algema
Vida tortuosa… tem pena de mim!

 

Cansada da vida espero por alguém
Que partiu um dia, que já sei não vem
E à noite em silêncio eu oiço chamar

 

É uma ténue voz… é a natureza…
No escuro da noite, uma chama acesa!
É a solidão… que me vem falar…


9


É a solidão, que me vem falar…
Entre estas paredes, frias, sem calor…
A um coração quase a agonizar
De frio e cansaço,  e com tanta dor…

 

Oh, não! Não quero! Mas isto é de mais!
Quero a liberdade, a minha alegria!
O mar está louco! É só temporais?
Levaste o meu bem, quem eu mais queria!

 

Diz-me, mar errante, que vida é a tua?
Às vezes ameno, namoras a lua
Outras vezes manso, pareces criança…

 

A brincar na praia juntinho à areia
Na maré vazia, ou em maré cheia,
Na brisa que soa, em constante dança…


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Na brisa que soa, em constante dança
Bates levemente de encontro ao rochedo
Sempre num vaivém, que aos poucos avança
Talvez inda me guardes aquele segredo!...

 

Que um dia te disse e que te pedi
Não contes ao sol nem tão pouco à lua
E nem às estrelas que vês por aí
Que de mim nem sabem as pedras da rua

 

Mar! Porque me levaste um dia à tardinha
O meu grande amor, ficando sozinha?
Quem pudesse segui-lo em asas de condor…

 

Mas tu repeliste-me, mandaste-me embora
Num leve suspiro, fumo que evapora
Meu bem amado, gigante Adamastor.


11


Meu bem amado, gigante Adamastor…
Meu lobo do mar, de ti cativeiro!
Que tu, mar ingrato, me foste traidor
Levando-o para longe, feito prisioneiro

 

Eu em terra firme, sentindo-me em vão
Esperando plo dia da sua chegada
E olhando bem à tua dimensão
Senti-me ficar entre a parede e a espada

 

Cartas que eu ia lendo e relendo
Para me distrair as ia escrevendo
O meu dia a dia, era como um ano

 

Guardava num cofre a minha pureza
Porém duma coisa eu tinha a certeza
Com os olhos namorava, o vasto Oceano.


12.


Com os olhos namorava o vasto Oceano
Vagas altaneiras contava uma a uma
Naquele vaivém tão atroz, mundano
Que se desfaziam a meus pés, em espuma

 

Outras vezes o mar parecia um cordeiro
Que parecia vir comer à minha mão
Ia e vinha…melancólico e ordeiro
Como menino dócil, sempre brincalhão

 

Espreguiçava-se na praia, rolava na areia,
Quantas vezes de noite seguia a lua cheia
Até parecia querer beijá-la docemente…

 

As estrelas, de ciúme, no céu cintilavam
As Sereias ao largo alegres cantavam
A maré mais calma, subia vagamente…


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A maré mais calma subia vagamente
Balouçando o berço onde tu dormias
Só eu esperava por ti cegamente
Contando um a um… em todos os dias

 

Quando vejo o mar, choro de saudade
Do tempo que amei! Oh, eu nunca esqueço!
Esse amor finado foi na mocidade
Que nasceu em nós, num lindo começo

 

Tudo nasce, tudo morre, é o destino…
Será sina que se traz desde menino,
Nascer, crescer, amar… depois morrer?

 

Assim foi o grande amor que nos uniu
A falsa espada que um dia me feriu
Deixando lembranças, em mim a roer!...


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Deixando lembranças, em mim a roer
Choraram meus olhos de tanta tristeza
Mas eu hoje quero apenas esquecer
Porém de uma coisa eu tenho a certeza

 

O mar que te levou, já se arrependeu
Hoje sorri-me… diz-se arrependido
Eu digo-lhe “Mar! Eu, já não sou eu!
No meu Tribunal foste absolvido!

 

Em tempos levaste, para além da barra
Um amor tão forte, como forte amarra,
Tu que me foste sempre confiante!

 

Vagueio ao acaso por falta de amor…
Procuro em vão o meu trovador,
Eu sou a brisa do poema errante!...”

 


LISDÁLIA VIEGAS DOS SANTOS
(Alcantarilha-Gare)


Esta senhora escreve assim. Mas, como tantas outras, não tem a divulgação que merece. Por isso, achei por bem divulgar aqui o seu nome, em alguns Grupos de poesia, na Internet. E prometo levar-lhe o carinho das vossas apreciações, se quiserem ter a amabilidade de as fazer. Seria uma grande alegria que lhe daríamos, podem estar certos disso!
Um abraço
Joaquim Sustelo

 

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