Celso Brasil

Co - Autor_ Antologia Literária Grupo Ecos da Poesia  _ 2006

"Dois Povos um Destino" _ Editora _ Abrali

Declamação _ Voz _ Celso Brasil

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Bala-Poesia perdida

© Celso Brasil

 

Ele escrevia, até, nas estrelas.

Nada segurava sua inspiração.

Tinha a alma calcada em versos.

Buscava temas no sim e no não.

 

Na simples e obscura vida

Tinha o amor como tema principal.

Jurava juras que jamais cumpriria.

Falava do bem contrapondo o mal.

 

Sofria alegrias, bendizia a dor...

Era Poeta que alegrava a alegria,

Era Ser que sabia sobrepor,

Antes de tudo, a dor que lhe ardia.

 

Embriagava-se em versos.

Expressava o inexprimível.

Quisera existisse agora e sempre.

Assim, se ouviria o inaudível.

 

Seus cantos cantavam a Paz,

Seus versos ainda o fazem!

Não maldizia a dor

E muitos, muitos, ai, jazem!

 

Tornou-se fria a noite de verão.

Uma bala afetou o perdido coração.

Um coração que não se achava,

Perdido numa inacreditável bala.

 

Perdido em supostas soluções

De problemas que a sociedade traz.

Problemas de tantos corações

Que nada... nada, nada apraz.

 

O errante Poeta escrevia

Versos, em rimas ricas e frias

Que subia o morro e descia,

Iluminando almas esguias.

 

As crianças o queriam,

Pediam sua doce palavra!

Em seus versos cantavam e riam,

Na palavra doce... e amarga.

 

Mas, uma bala, o Poeta calou.

Seus versos, o mundo deixou...

Deixou em sua rima a mensagem...

Deixou sua dócil imagem.

 

Uma bala, mal direcionada,

Atingiu o Poeta e sua palavra.

Um Poeta que se perdia em versos!

Que deixou um mundo perplexo.

 

A bala atingiu o Poeta

Que rimava em rima convexa,

Falava a verdade, a decadência...

A verdade em versos! clemência!


Todo o morro não entendeu...
Todo o morro chorou.
A Poesia chorava...
De luto, ela ficou.

 

A comunidade triste, com certeza!

Comunidades tristes convencem

O mundo de suas rudezas!

Combatem e nunca vencem.


Essência é própria de Poeta.

Poeta é um deus... não é gente!

Poeta é sempre um profeta

Que desperta o ser plenamente.

 

E de repente o Poeta se foi

Na bala perdida da existência.

E o morro matou o Poeta.

O morro chorou sua ausência.

 

Muitos o Poeta norteou,

Dizendo que o mundo era

A poesia que nunca errou,

Que mostrava a nova era.

 

Nesta era o Poeta foi viver,

A era que um dia quer ver...

Ver o Poeta, aquele demente,

Falando ao coração novamente.

 

O morro entrou em desatino,

Até quem não queria chorou.

Cadê a Poesia do Poeta Menino?

Foi-se embora? Nos deixou?

 

Desespero tomou o morro.

Almas pediam socorro.

Almas que o Poeta consolava!

Consolo que, agora, se acabava!!!

 

O Poeta era tudo e mais um pouco.

Um pouco burro, inteligente e louco!

Cadê o Poeta deste mundo perdido,

Que acalma a alma e o coração ferido?

 

Queremos o Poeta! O morro gritava.

Queremos nossa alma de volta!!!

Ninguém... ninguém os escutava!

Onde está DEUS? O néscio indagava.

 

Definhou-se o carnaval...

Definhou-se a alegria...

Vencia, finalmente, o mal,

Porque o Poeta se ia.

 

Esperam de volta, ‘inda hoje,

Todos... sem exceção!

Todos que abrigam no peito
Versos, amor e compaixão.

 

Mas sua Poesia despertou!

Despertou, até, os imunes!

Cantam-se versos que ficou

Do louco, do muito, do lume...

 

O Poeta ainda está Vivo!!!

Cantam-se seus versos!!!

O carnaval ficou mais rico!

Esqueçam os fuzis perversos!

 

Poeta não morre nunca!

Construam fuzis potentes,

Mas, nunca conseguirão tirar

O Poeta do coração da gente!

 

Com música, se fez presente.

A música, não vão matar!

O Poeta vive!!! Escutem!

Escutem! Há música no ar!!!

 

Deus lhe pague, Poeta!

Você, que habitava o barraco
Que o Pai mandava o vento

Soprar versos pelas frestas.

 

Deus lhe pague, Poeta!

Vate que deixou, em vida,

O legado de um Esteta

E uma bala - Poesia perdida.

 

© Celso Brasil _ In "Dois Povos Um destino"

03-junho-2005

 

 

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