Bala-Poesia perdida
© Celso Brasil
Ele escrevia, até, nas estrelas.
Nada segurava sua inspiração.
Tinha a alma calcada em versos.
Buscava temas no sim e no não.
Na simples e obscura vida
Tinha o amor como tema principal.
Jurava juras que jamais cumpriria.
Falava do bem contrapondo o mal.
Sofria alegrias, bendizia a dor...
Era Poeta que alegrava a alegria,
Era Ser que sabia sobrepor,
Antes de tudo, a dor que lhe ardia.
Embriagava-se em versos.
Expressava o inexprimível.
Quisera existisse agora e sempre.
Assim, se ouviria o inaudível.
Seus cantos cantavam a Paz,
Seus versos ainda o fazem!
Não maldizia a dor
E muitos, muitos, ai, jazem!
Tornou-se fria a noite de verão.
Uma bala afetou o perdido coração.
Um coração que não se achava,
Perdido numa inacreditável bala.
Perdido em supostas soluções
De problemas que a sociedade traz.
Problemas de tantos corações
Que nada... nada, nada apraz.
O errante Poeta escrevia
Versos, em rimas ricas e frias
Que subia o morro e descia,
Iluminando almas esguias.
As crianças o queriam,
Pediam sua doce palavra!
Em seus versos cantavam e riam,
Na palavra doce... e amarga.
Mas, uma bala, o Poeta calou.
Seus versos, o mundo deixou...
Deixou em sua rima a mensagem...
Deixou sua dócil imagem.
Uma bala, mal direcionada,
Atingiu o Poeta e sua palavra.
Um Poeta que se perdia em versos!
Que deixou um mundo perplexo.
A bala atingiu o Poeta
Que rimava em rima convexa,
Falava a verdade, a decadência...
A verdade em versos! clemência!
Todo o morro não entendeu...
Todo o morro chorou.
A Poesia chorava...
De luto, ela ficou.
A comunidade triste, com certeza!
Comunidades tristes convencem
O mundo de suas rudezas!
Combatem e nunca vencem.
Essência é própria de Poeta.
Poeta é um deus... não é gente!
Poeta é sempre um profeta
Que desperta o ser plenamente.
E de repente o Poeta se foi
Na bala perdida da existência.
E o morro matou o Poeta.
O morro chorou sua ausência.
Muitos o Poeta norteou,
Dizendo que o mundo era
A poesia que nunca errou,
Que mostrava a nova era.
Nesta era o Poeta foi viver,
A era que um dia quer ver...
Ver o Poeta, aquele demente,
Falando ao coração novamente.
O morro entrou em desatino,
Até quem não queria chorou.
Cadê a Poesia do Poeta Menino?
Foi-se embora? Nos deixou?
Desespero tomou o morro.
Almas pediam socorro.
Almas que o Poeta consolava!
Consolo que, agora, se acabava!!!
O Poeta era tudo e mais um pouco.
Um pouco burro, inteligente e louco!
Cadê o Poeta deste mundo perdido,
Que acalma a alma e o coração ferido?
Queremos o Poeta! O morro gritava.
Queremos nossa alma de volta!!!
Ninguém... ninguém os escutava!
Onde está DEUS? O néscio indagava.
Definhou-se o carnaval...
Definhou-se a alegria...
Vencia, finalmente, o mal,
Porque o Poeta se ia.
Esperam de volta, ‘inda hoje,
Todos... sem exceção!
Todos que abrigam no peito
Versos, amor e compaixão.
Mas sua Poesia despertou!
Despertou, até, os imunes!
Cantam-se versos que ficou
Do louco, do muito, do lume...
O Poeta ainda está Vivo!!!
Cantam-se seus versos!!!
O carnaval ficou mais rico!
Esqueçam os fuzis perversos!
Poeta não morre nunca!
Construam fuzis potentes,
Mas, nunca conseguirão tirar
O Poeta do coração da gente!
Com música, se fez presente.
A música, não vão matar!
O Poeta vive!!! Escutem!
Escutem! Há música no ar!!!
Deus lhe pague, Poeta!
Você, que habitava o barraco
Que o Pai mandava o vento
Soprar versos pelas frestas.
Deus lhe pague, Poeta!
Vate que deixou, em vida,
O legado de um Esteta
E uma bala
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Poesia perdida.
© Celso Brasil _
In "Dois Povos Um destino"
03-junho-2005