ParteII

 

 

O que me moveu a escrever esse poema , foram os anos vividos em São Paulo , os dias repetidos de abandono , as crianças que a cada dia aumentavam na Praça da Sé e imaginar um futuro ...
Lá na frente , seríamos vítimas do nosso descaso ! Assim estariam as crianças em nosso Brasil de tantas diferenças . Cenas reais que nos obrigam a uma reflexão profunda sobre um futuro negro , porém que ainda pode ser mudado se as pessoas fizerem a sua parte . Independente dos políticos. A esperança existe em nosso povo . Este sempre dá uma resposta ao grito do oprimido, das grandes causas !
O mais importante desta ciranda é que vários poetas , formadores de opinião , expressaram a sua tristeza , a sua indignação e preocupação com esta triste realidade . Os Meninos da Sé , representam tantos outros nas mesmas condições e que, amanhã , estarão determinando um Brasil mais violento , mais desumano , mais frio e injusto .
Abraços com carinho .
Martinez

 

 

 

É com imenso prazer que lançamos ao mundo "A Ciranda Meninos de Rua", idealizada e iniciada pelo nosso querido MAESTRO MARTINEZ, que prestigiou e deu a coordenação para nossa querida poestisa  RAQUEL CAMINHA MATOS. Ela como sempre gentil, e prestativa, teve a coragem e ousadia, acompanhada de muita paciência, na elaboração dessa ciranda de poetas reais e virtuais, num tema que mexeu com o coração de todos, servindo de alerta às autoridades, para que olhem mais por esses "Meninos de Rua". É uma leitura imperdível!

Obrigada e parabéns a todos os participantes que depositaram  total confiança em nosso trabalho.

Agradeço a SimoneCz pela bela formatação, nos cedendo o fundo de página do poema do MAESTRO MARTINEZ, que deu início a essa ciranda. Trata-se, de fato, de uma verdadeira obra de arte, dessa formatadora de altíssimo nível, sendo atribuidos a ela os créditos.

"Meninos de Rua"... é o desejo real

de todos nós vermos essess meninos nas escolas

Raquel Caminha 

 

Tema:Meninos de Rua - Maestro Martinez-
Coordenação: Raquel Caminha Matos

Autores: Diversos

 

 

 

 
CRIANÇA ABANDONADA
Luíza Soares Benício de Moraes -1984

Inocência de vida
Pervertida... Sofrida...
Vivida na luta
Buscando da vida
O que tem a mais

Resistes intrigas
Suscitas medidas
Te tornas adulto
Como tantos normais

E geras espermas
Ovulas,  consternas
Gerações futuras
De mais marginais...
______
 
A criança e seus direitos violados
Mercêdes Pordeus

Denominam-te de criança esperança
Em tuas mãos depositam a confiança,
Para um mundo melhor construires
No entanto, esquecem de te fazer criança.

Criança que brinca, estuda, se alimenta e sorri
E que nessa esperança ao vil mundo se lança,
Pedem que a ti não se dêem esmolas
Que te  seja dada cidadania. Qual cidadania?

Porém a própria sociedade torna teu direito utopia
Cada dia mais longe estás, criança,
 vivendo uma alegoria
Em teus olhos permanece sim, a dura melancolia
De te lançares ao mundo em busca do prometido
 no dia a dia.

Ver-te dormir embaixo de pontes, viadutos,
nas calçadas
Como te negar uma esmola, à espera que te concedam cidadania?
Saciar-te a fome é preciso, necessidade imediata.
Que fizeram dos teus estatutos,
 criança abandonada?

Ver-te jogada ao léu, acompanhar o descaso
 aos teus atributos
Oh! Deus Onipotente, Onipresente e Onisciente!
Vela por essas crianças,
 nas suas vidas fazei-te presente
Na atual conjuntura, são pessoas inocentes
e carentes.

Nós, como pais que a nossos filhos podemos educar
Comprar-lhes presentes e nesse dia comemorar,
Supliquemos ao Senhor: Velai por nossos filhos
Velai e protegei também aqueles pequeninos.

Jogados ao relento, crianças violentadas desde cedo
Moral e fisicamente quando tentam  a sobrevivência
Na busca de que lhes dêem um trocado
por uma bala
Ou, no intento de limpar um pára-brisas.

Sociedade ainda vil e má que mesmo assim
Quer levar vantagem sobre elas,
Deus, continua protegendo nossos filhos
Mas, olhai principalmente por estes pequeninos.
______
 
 Meninos de Rua
Helô Abreu

Li nos teus olhos
A piedade que pedias,
o lucro que perseguias...
Mas apenas para sobreviver!
Tomara eu dar-te um dia
a infância que pretendias
Prender-te nos braços,
sem maldade nos espaços
e ver que não partias...
Quisera eu dar-te um dia
Tudo de bom que há na vida
E ver que crescias...
_________


Livre arbítrio
Marisa Francisco

Uma passarinha fez seu ninho
numa árvore quase pelada.
Ficou lá dependurada dias e noites
como que cumprindo sua obrigação animal.
Houve chuva, vento, tempestade,
houve tudo que manda a mãe natureza!
Poucas vezes ela se afastava do ninho.

No dia certo nascia dois rebentos
dos três ovos colocados!
E dia após dia ela cuidava,
alimentava e protegia,
até que em momento natural,
como tudo foi,
eles levantaram vôo
direto pra boca do cachorro...

Que mãe prevendo tão árduo destino
teria coragem de parir seres tão frágeis?

Vejo os dois passarinhos
nos olhos do menino
que pede  na janela do carro...
_____
 
Moleque de Rua
Ivete Tayar

Por que vives na Rua?
Ah! Já sei...
Não tens um lugar para morar.

Por quê?
O que lhe faltou?...
Quer mesmo saber?!...
Não sou filho de família rica
Fui privado de amor
Sequer tenho direito a educação.
Saúde então nem se fala...

Pra que existe os Direitos Humanos?
Onde está a nossa sociedade?!...
Empresariais; governamentais...
E o nosso povo que não se mexe.
Pra que isso seja modificado.

Até quando iremos pagar altos tributos
E mesmo assim convivermos diariamente
Com esses miseráveis...
Que neles se enquadram os moleques de rua.

Vamos acordar... Dar um grito de liberdade...
Nossos moleques de rua são como nós...
Só precisam de saúde, amor e educação.

É hora de agirmos... Impormos nossos ideais.
Nem que pra isso precisamos lutar.
Vamos a luta... Eles contam contigo!
_______
 

Glosando Milton  Sebastião Souza
Gislaine Canales
MORADA...MARQUISE...
MOTE:

Madrugada...o sono aperta...
e a criança abandonada
faz de um jornal a coberta...
faz da marquise a morada...

Madrugada...o sono aperta...
a noite negra chegando
 o frio, de forma incerta
vai os ossos regelando...

Tantos com tanto no mundo,
e a criança abandonada
dorme seu sono profundo
sem lar, sem cama, sem nada...

Nestes veros, um alerta:
Lembremos que essa criança
faz de um jornal a coberta...
mas seu leito é a esperança.

Necessita de carinho
essa criança judiada
que, sem lar, no seu caminho
 faz da marquise a  morada...
______________
 
PUNHAL
(Emília Casas)


E saio
Quero encher o peito de ar
e de luar,
encher os olhos de estrelas
e de mar
ouvir o silêncio da poesia...

E caminho
tão dona do mundo,
tão dona da vida
tão dona de mim...

Mas...de um canto escuro
brota um fio de vida
lagartixando pela calçada...
Forte, só o olhar,
olhar punhal
que desafia
meu olhar poesia

Peste de menino!
É hora de me assaltar?
De me apunhalar?
Mas você não tem dó:
apunhala-me com o olhar!

Sou ferida aberta.
Meu sangue jorra...
Na calçada há uma poça
de ar, luar, estrelas e mar...

Mas seu olhar punhal
poupa-me a poesia...
Não estou vazia
Estou prenha de você....

Peste de menino!
Pestinha de menino!
Meu triste menino!
Meu bom menino!
Perdão, menino!
_____________

 
Conta as estrelas
Silsaboia

- Mamãe, tem pão?
Não. O bicho homem comeu.
Olha ali menino a lua...dorme...
- Mãe,a gente vê a lua todo dia.
É....nosso teto são estrelas....dorme filho...

_ Mãe, tenho fome....
Dorme filho...conta as estrelas...
Dorme que a fome passa...

E as lágrimas se perdem no frio e na fumaça ...

- Não sobrou pão?
Não.
Nem pão, nem sonhos,nem o amanhã.
Me abraça filho,está frio, e esta noite
também tenho medo.....e tudo me espanta!

Dorme filho....
Conta as estrelas....conta!
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MENINO POBRE
Natália Vale


Um pobre menino na rua encontrei,
Seu rosto, sujo, sorria ao pedir,
Uma esmola que lhe dei,
Para a fome colmatar
E perder a tristeza de seu olhar.

Órfão, desamparado,
A rua é seu abrigo,
Menino abandonado,
E em constante perigo.

Incapaz me senti,
Perante tanta miséria,
Que à minha volta via,
Consolei-me ao olhar

Naquele dia,
Aquele belo menino
Que naquele instante me sorria.
______________________ 

Êxodo
Eliane Gonçalves***
 

Estrangeiros em sua própria terra
Peregrinos da sociedade humana
Na passagem do Mar Vermelho
Da dor, abandono e violência

Longa é a travessia do deserto
Na busca de amor e afeto
Como a grande nuvem protetora
Dos dias quentes de imensa solidão

Filhos de Deus, sempre serão
Mesmo quando são esquecidos
Alimentam-se do maná da caridade
Dos que ainda acreditam no amor

Esperam a chegada do Messias
Que não será rei ou presidente
Nem mesmo um grande monarca
Ou príncipe dos contos de fada

Ele chegará de forma simples
Trazendo a justiça e a verdade
Pra mostrar ao mundo e a humanidade
Que o homem precisa viver com dignidade

________________________
 
 
Anjo do abandono
Gui Ferreira de Oliva
* excerto do poema "Anjos das Calçadas"
de Nilo Entholzer Ferreira

meu saudoso irmão
ele vive nas calçadas do abandono
a fome a lhe atormentar com dor aguda
o frio cortando a alma já tão rota
a solidão embalando-lhe o sono
não teve a chance de uma escola
subtraíram-lhe a folia de uma infância
seu horizonte agora é cheirar cola
negaram-lhe o direito: um dia ser criança!
prostituem-lhe o corpo já exausto
em frangalhos pelo trabalho escravo sua lida
os céus só alcança na droga... como um avião
ou quando uma bala perdida alcança a tosca vida

Versejo a dor do encontro
cotidiano com essa realidade
desses anjos... milhões de anjos que
*"nascem já sem esperanças
são anjos rotos, indefesos, maltrapilhos,
não conseguem nem ser filhos
e não podem ser crianças"
mas indago a mim mesma
o que fiz eu? o que faço
além de chorar em versos
pelos cantos?
o que posso fazer
para transformar e alterar,
pelo menos no Brasil
e em todos seus recantos,
enxergando de uma vez
toda a crua verdade?
que é por conta desse modelo
capitalista e consumista
que produzimos essa tão injusta
quanto cruel sociedade.
_______________
 

MENINO DE RUA
Maria da Fonseca

Menino sem pai nem mãe,
Pelos outros envolvido,
Vives na rua, largado.
Só aos teus tu és unido,
Aos pivetes és ligado.
Sem pão, sem lar nem carinho,
Corres a rua madrasta,
Enganado, seduzido.
Muito pouco é o que te basta,
À desgraça reduzido.
Pobre menino franzino,
Pedes com tanta insistência,
Persegues com tanto ardor,
Que afastas a indulgência
E só nos causas temor.
Sem 'scola, 'studo, valores,
O menino que é da rua,
Nem à noite tem descanso.
No seu tecto mora a lua
E a pedra é o seu ripanço.
Socorrei esse menino,
O que será seu futuro?
Valei-lhe em sua desdita.
Resgatai-o do escuro,
Regresse à vida bendita.
_____________
 
CONTRA MÃO
Rogerio Miranda

A fome aperta,
para o sinal vai ele,
porque somente o
alimento para pedir
foi o que sobrou.
Me da 1 centavo Sr. moço
- não muito obrigado
estou com fome
Me da 1 centavo Sr. moço
-não muito obrigado
De sinal em sinal....
Me da 1 centavo Sr. moço
-não muito obrigado

Onde estas a Sra. D. lei,
escondida atraz das urnas?
a espera de mais um
faminto que se engana
com um falso prato de comida.

Me da 1 centavo Sr. moço
-não muito obrigado
O que fazer ao relento,
se tu pedes, é porque
não pediste para pedi,
tu choras a dor da fome
e a impunidade dos
dos poderosos,roubas
para manter no poder
esta mentira que de
em sinal em sinal...

Me da 1 centavo Sr. moço
-não muito obrigado.
És parte deste espetaculo
te faz, é viver
a espera de Deus as margens
da contra mão.
____________________

SINAL VERMELHO
Sueli do Espírito Santo


sua morada é nas ruas e avenidas
ao relento tenta ganhar a vida
lava vidros de carros no cruzamento
pra poder garantir o seu sustento
O menino maltrapilho se levanta
e o motorista logo se espanta
dá a partida e sai rapidamente
ignorando aquele olhar inocente
Vem outro carro, tenta um trocado
e o motorista fica amedrontado
meneia sua cabeça negativamente
e sai o menino, nada em mente
Sua vida é ditada pela troca de cor
nesse seu mundo vazio de amor
triste e cansado, ajeita seus cabelos
a espera do próximo sinal vermelho
____________________
 
Os FILHOS DE NINGUÉM
Cristina Aceves Colibri/USA
Traducão por Gislaine Canales

Com o olhar perdido e chorando,
pede o estômago um pouco de pão;
aos caminhões sobem cantando
por uns centavinhos que lhe dão.

Com a carinha pintada de palhaço,
fazendo piruetas pelas ruas,
a miséria lhes estendeu o laço,
aos meninos, em todas as rotas.

Com a garganta e a boca desfeita,
o engole-fogo ganha uma miséria,
trabalhando dia e noite não vê colheita,
termina a jornada com a cara séria.

O engraxate não põe o exemplo,
já que vai caminhando sem sapatos,
com sua carinha triste chora por demtro
não atinge nem chinelos baratos.

Gritando o bilheteiro, compre loteria!
percorre as ruas faminto e cansado,
leve este bilhetinho, lhe trará alegria!
a sorte patrãozinho estará do seu lado.

O papeleiro grita a extra! o mensageiro!
últimas notícias! não se assombre,
este ano recortaram o dinheiro
o mundo está morrendo de fome.
Sem casaco, nem pão, com a vista de pavor,
vende seus chicletes com amargura,
droga-se com cimento e esquece com dor
que não tem, lar, amor e ternura.
O mais triste é ver o menino prostituído,
vendendo seu corpinho tão inocente,
porque por muito tempo está desnutrido,
seu corpo o compra um destino indecente.
Ao cair a noite regressam cabisbaixos,
sem futuro e esquecidos pelo mundo,
seus lares de papelão em bairros baixos,
escondem a dor de um destino infecundo.

Os filhos de ninguém sim, existem!
suas vidas cheias de perigo estão,
ao sair à rua de terror se vestem!
porque não sabem se sobreviverão! 
______________

 
Debaixo da Ponte
Vyrena
 
Vejo-te, ó menino,
debaixo da ponte, vivendo
em meio a trouxas de roupa suja
e do lixo que água amontoa.
Vejo-te a banhar-se
na água poluída e imunda
que desliza junto a tua morada.
 
Vejo-te a remexer o lixo imundo
à procura de alimento
e, quando o encontras,
abre-se em tua face um sorriso
de dentes carcomidos.
Vives no abandono
jogado sem destino na vida.
teus pais, quem serão?
Foste jogado à própria sorte
e aprendeste a sobreviver.
 
Até quando?
_____________
 
 
 
 
SUBVERSÃO
Margaret Pelicano

Sobre jornais usados,
dorme criança
sob a marquise da padaria!
Ali dentro,
o alimento,
mas você, fica sem atendimento!
Não tem dinheiro,
esmola:
tia me dá um pão?
E a suposta tia diz:
Não! Não tenho!
Entra no seu EcoSport
e com sorte
não encontra outra criança, não!
Se bobear, encontra é uma multidão!
Abandonada, suja, esfarrapada!
pedindo qualquer tostão!

E todos fazem vista grossa,
para essa criança. Enroscam a vida num turbilhão
voraz de vontades,
menos a vontade de ajudar o irmão!

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Meninos de Rua
Pepita benetti
 

Quem são vocês meninos de rua?
Aonde estão suas casas?
Quem são as suas famílias?
Cadê seus pais?
Aonde estão aqueles que deveriam te acalentar?
Que deveriam te dar colo?
Que deveriam acariciar seus corações?
Cadê as pessoas que deveriam te amar?
Que deveriam te respeitar?
Meninos de rua como podem
suas almas sobreviverem?
Como vocês podem assim
conhecer o que é amar?
O que é sentir um sorriso.
Se nem a dignidade de uma roupa,
de uma atitude bondosa,
Se nem um olhar vocês não podem possuir?
Como podem vocês sobreviverem se
te faltam braços que te acolham...
Se te faltam mãos para te acariciarem?
Se faltam esperanças para caminharem?
Deus como podem crianças tão inocentes,
serem abandonados a falta de caridade...

A falta de um beijo...
Pobres meninos... quem terão coragem
de abraçar-lhes quando o medo os dominarem...
Quando o desamor os possuírem?
Porque tantas humilhações pelas ruas
a pedirem por uma esmola...
Apenas um pedaço de pão para
saciarem o que de nós nos sobram...
Não é aqui crianças que vocês deveriam estar...
É no aconchego de suas casas, se assim vocês o tiverem...
É nas escolas, se elas, paciência tiverem contigo...
Meninos de rua, que dor abrigam suas vidas?
Quem estará ao seu lado quando chorares de fome?
Quem os abrigará quando sentirem frio?
Que infância melancólica...
Sem uma pipa, uma bolinha de gude...
Apenas um sinal como abrigo...
Apenas uma caixinha como companheiro...
Apenas amigos que também lutam
Por um ideal que talvez jamais conhecerão...
O respeito, a dignidade, o carinho
Que tantos têm,
E que vocês para o terem
Se humilham tanto.

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Meninos de Rua
Jamavieira


Noite escura
gélida
nua
corpos jogados
sem teto
sem nada
tiros ecoam
destinos mutilados
sem vida
apenas crianças
sem culpa
jogados na lama
solitários
acuados
cheiro de cola
S.O.S criança
engorda os bolsos
tubarões insaciáveis
Igreja! fortaleza de pedra
Governos "cegos"
manchas de sangue no chão
nada feito
quem se importa!...

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FOME
Vera Ribeiro Guedes 
 

NÃO CORRÓI SÓ O CORPO,
CORROMPE TAMBÉM A ALMA.
A CABEÇA NÃO PARA DE PENSAR,
NO FILHO QUE NÃO PARA DE CHORAR.

 LEVA CRIANÇAS ÀS RUAS,
A VENDER BALAS NO TREM,
SEM ESCOLA, SEM CASA, QUASE NUAS,
SÃO OS FILHOS DE NINGUÉM.

DE REPENTE, ELA FALA MAIS ALTO,
DO QUE A VOZ DO SEU CORAÇÃO,
E OS MOCINHOS VIRAM BANDIDOS,
E NINGUÉM TEM COMPAIXÃO.

QUEM SERÃO OS CULPADOS?
OS POLÍTICOS, O MUNDO, OU VOCÊ?
QUE FICOU AÍ CALADO,
SEMPRE TÃO ACOMODADO,
O QUE É QUE VAI FAZER?

ESSE PROBLEMA NÃO TE PERTENCE,
JÁ TENS MUITO EM QUE PENSAR,
O CARRO, O DVD, AS AÇÕES?
O QUE É QUE VAI COMPRAR?

E OS VALORES SE INVERTEM,
DINHEIRO, LUXO E PODER,
SÃO MAIORES DO QUE O HOMEM,
QUE NÃO SENTE QUE A FOME,
FAZ OUTRO HOMEM SOFRER.

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TOCA O TEU CORAÇÃO!
Ricardo De Benedictis

Olha a criança faminta,
Sinta...
Olha a família carente,
Gente...
Olha pra aquela favela,
Cela...
Olha pra aquele arrastão,
Cão...
Olha pra aquele drogado,
Lado
Ajuda quem está sofrendo,
Sendo...
Acaba o mal que os consome,
Fome...
Vomita o teu ideal,
Mal...
Curando aquela ferida,
Vida...
Que toca o teu coração,
Vão...

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Mirando el cielo
Marycris Liste


Ojitos tristes, mirando al cielo,
pidiendo a Dios,
calme su desconsuelo,
Rezando para que el mañana
sea distinto
con la Esperanza,
de tener sobre su mesa
un plato de comida,
que no se escape,
que siempre crezca.
manitos sucias, pero con orgullo,
apretando fuerte un mendrugo
de algún pan que encontró en la calle,
esa calle que representa a su madre,
ya que es la única que le da pan y abrigo.
Ojitos tristes, si yo pudiera
darte más de lo que quisiera,
darte más que una esperanza
que apenitas llena tu panza.
Si hubiera más Amor en la gente,
que dicen que "nos gobiernan",
si tal vez gritáramos más fuerte,
la tristeza que nos embarga
al ver a tantos niños
con sus almitas desvalidas,
tal vez nos escucharan
esos "señores de allá".
Parecen tan lejanos
viviendo en sus palacios,
mientras cada día muere un niño,
por falta de pan, de cuidados.
Hay Diosito Santo,
mira a todos estos Niños
que necesitan tu Abrigo.
Pon en cada corazón
un poquito de razón,
para que todos Unidos
hagamos Felices a los Niños.
Y que sea una tarea
de cumplir diariamente,
no los saquemos de nuestras mentes,
ni por un minuto siquiera.
Ojitos tristes, mirando el cielo,
yo entiendo tu desconsuelo,
si pudiera prometerte
que mañana será. ¡Diferente!

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POBRES MENINOS
Antonio Cícero da Silva

 
Os pobres meninos de rua
Não vivem somente na Sé
Estão também em outras praças
Isso é uma desgraça.
Vivem para lá e para cá
Principalmente nas grandes cidades
Vivem nus e descalços
E nunca recebem um abraço.
Vivem na desilusão, sem claros horizontes
Sem nunhum progresso e apoio
Da sociedade são dispersos
No mundo desgarrados vivem ao inverso.
Mas voltando à Praça da Sé ficamos tristes
Encontramos muitos deles largados ao relento
Com semblantes pesados e modos desalmados
De quem será a responsabilidade? De todo o povo ou do estado?
Uma coisa é certa.Os meninos vivem como animais
Sem rumo e sem leis aparentes
Usam o tempo sem bons objetivos
Com um futuro realmente abalado.

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Crianças Olvidadas
© Daura Brasil


Furtivas razões de nas ruas permanecerem
E muitos julgam, com um extremo rigor,
As crianças que buscam só sobreviverem,
No mundo que nem sequer lhes dá amor.

Olvidadas por pais que néscios, as ignoram,
Sofrem em demasia com tamanho desdém
E como se não bastasse, ainda as exploram,
Forçando-as às esquinas para ganhar vintém.

Diante de tanta vileza e enorme omissão,
As pobres criaturas vão se desvirtuando,
E como o produto de tão indigna sujeição,
Em pequenos marginais estão se tornando.

A sociedade se defende e atua opressora,
Como vítima que também é, se apresenta.
Se uma instituição se mostra acolhedora,
Algumas delas da miserabilidade se isenta.

Contudo, é grande o número de menores,
Mas, uma ação conjunta e nobre decisão,
Dos governantes, sociedade e entidades,
Dignificar-lhes-ia, dando-lhes mais atenção.

_______________________

MENINOS DE RUA
Eme Paiva

Que querem, estes meninos,
que vivem na grande e vasta casa da avenida?
Que brincam na imensa piscina,
do quintal daquela praça?
Que desejam, estes meninos
que comem à farta
de tudo que cai ou sobra do balcão
daqueles que se alimentam?
Que esperam, estes garotos,
com seus narizes escorrendo,
espalhando o defluxo pelo rosto,
com a manga da puída e curta camisa?
Que sonham estes pequenos,
tirando alegria em haustos...
Aspirando alentos de colo materno...
Inalando suas mais altas fantasias,
brincando de serem crianças normais,
com comida, casa, mãe e escola?
Sonhos estes que lhes parecem mais reais
quando inspirados na abertura do plástico,
que envolve uma latinha de cola!?!
Ou, na desventura de uma pedrinha de craque?
Que desejam de mim, estes garotos,
com seus olhinhos de súplica,
que imploram desculpas por existirem,
e ao mesmo tempo me culpam
por ter nascido num lar normal
e portanto ser mais feliz!?

De que me acusam os olhinhos destes meninos,
por somente lhes dar paliativos à sua penúria...
à sua profunda, visceral
e danosamente conseqüente, carência total!?
Por não lutar o suficiente para reverter
o quadro social, de tão grande e injusto
despojamento!!?
Por que não consigo encarar
os olhinhos deste garotos, sem sentir
uma profunda e inútil vergonha??
___________

 

Filho de Ninguém

Marise Ribeiro

 

Solidão no esmolar...

Ausência de mãos a te afagar...

Fome do seio materno...

Pessoas te oferecendo um olhar de inverno.

 

Chão de pedra sujo e duro...

Nem sonhas com o futuro...

Não o tens... não há esperança...

Não há quem se importe com a criança.

 

Para muitos já és um homem,

já roubas, já matas, já te vicias...

Desamparado, medo de lobisomem crias,

o lado menino ainda fantasias.

 

A sociedade te rejeita,

à ela tu não convéns...

estende teu trapo... teu abandono deita

és invisível... és filho de ninguém.

___________

 

Menino de rua ...
Gildina Roriz (Magy)
 
Menino de  rua !
Abandonado, deixado ao léo,
sem pão, sem teto, sem guarida...
Te esqueceram numa escola espuria,
te negaram o direito à vida!
Ao te deixarem , te condenaram.
Levas a marca da degradação,
te baniram do céu...
 
Tua alma pura de anjo indefeso,
na escola espuria  das ruas se perdeu,
se trasformou, se endureceu...
O anjo menino , anjo caído,
inocente vítima do desamor,
já homem maduro
espalha o terror...
 
Hoje , demônio a incomodar,
a justiça, das ruas, vai te tirar
e com uma cela numerada
te presentear.
 
Se alguem no passado
tivesse sido capaz,
de com amor acolher
esse rapaz,
essa historia
seria tão diferente ,
Hoje, em vez de facínora
 ele seria  gente,
 e outro destino poderia ter...
 
 Apelo aqui, a mim e a você... Vamos,
 agradecendo a Deus nosso bem estar ,
 um menino de rua salvar...

_________

 

Meninos de Rua
 
Mazela deste século, este tormento
tênue esperança, implacável sementeiro
de crianças sem casa,sem teto e ao   relento,
a cola de sapateiro, ou crak, seu principal alimento.
 
Vegeta a  perambular pela vida ausente
presente do destino ,algum traficante
que oferta a primeira droga de presente
como escola de vida ,do obscuro meliante.
 
E nós passivos, e o governo em doces águas
caudalosas, leito bem firmado do Valérioduto
deixam a criança à mercê de tantas mágoas
da fome, da miséria, do estupro e do luto.
 
E nós passivos, alhures, nas falsas esperanças
damos força e gravamos a impotência da vontade
Na rua,desprotegidas alguns milhões de crianças
por interesses políticos, nefastos atos de caridade.
 
Ali, na Brasilândia , no Batuíra, e outros, espaços esperança
O voluntariado desconhecido, serve sopa às centenas
premidos pelo amor ao peito inocente, carente de mudança
do governante, extremamente vil,com fachada de Mecenas.
 
Manuel Jorge
Alphaville

________

FOME DO ABANDONO
TÂNIA AILENE
 
Meninos de todas as raças, credos
natural da rua
desmedida no cobiça do poder.
Nascem todos iguais
com mães tendo sonhos
que o melhor será deles.
Crescem num consumo desenfreado
onde o ter vale uma vida.
Descalços, sujos,camas feitas de jornal
drogados da existência.
Medo estampado no rosto da sociedade
que ignora ser tão culpada
quanto os que cercam crianças
na fome do abandono.
Sem hora para dormir
escolas que nada aprendem
educação que não tem quem dê
o que esperar?
A morte anunciada pelo fuzil amigo
ou a dopada pela escolha
de um dia ser ou ter
algo que  mídia impõe...
Pena tenho dos que se calam
fingem não ver a culpa
em cada sinal, calçada
ou no esbarrão
que leva a carteira do cidadão.
Acorda gente?
Ainda temos tempo para acabar
com o flagelo imposto
aos menos favorecidos.
Ninguém escolhe viver
sem perspectiva de uma vida...
 
15/04/2006
TÂNIA AILENE
RIO DE JANEIRO
BRASIL  

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CRIANÇAS DE RUA 

J.Sustelo_Portugal

 

Noite de Inverno, ela bem escura e fria...
Chove, há tanto frio e trovoada
E toda a gente quase em sintonia
Regressa a casa, a casa abençoada

 


Parecendo indiferente ao frio que corta,
Criança, rotas vestes, seminua,
Enrosca-se ali mesmo em vão de porta
Para uma noite mais, juntinha à rua

 


Dum saco velho tira o seu pãozinho
Que é tudo o que lhe resta para jantar
Na fronte guarda ainda algum carinho
Que alguém há pouco deu, quando ao passar

 

 

Enquanto exposta assim, tanto tirita,
Vai comendo, de pão, aquele pouco
Uma carinha suja mas bonita
Olhinhos a olhar um mundo louco

 


Depois já não resiste... é o cansaço
O seu frágil corpinho desfalece
Circunda os joelhitos num abraço
É nessa posição que ela adormece

 


E sonha com o dia que passou
Com um sorriso dado por alguém
E odeia quem um dia a escorraçou
E a fez sair do lar que já não tem

 


A chuva cai... vem vento de rajada
Nos lares não se "nota", há o conforto...
Mas a criança ali, enregelada,
Pode pela manhã ser um ser morto

 


Será ainda assim a indiferença
Se tal acontecer... e no jornal
Em letrinhas minúsculas de imprensa
Ler-se-á  " morreu mais um marginal." 

 

Joaquim Sustelo 

Portugal

Sitio

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Meninos de Rua

LuliCoutinho

 

Busquei no silêncio desses meninos

Imaginar o que estariam pensando

Ou que pensassem ao me olhar

Talvez tivessem a mesma dúvida.

 

Fica uma pergunta sempre no ar!

Até aonde vai chegar? Seremos heróis?

Condições sub humanas, sem sonhar.

Faltando o aconchego o amor dos pais.

 

O descaso e desrespeito da criança

Às vezes tento imaginar minha filha

Drogada pra não sentir fome e frio

E não pensar que possa existir um lar.

 

Busco no silêncio desses meninos

Palavras pra tristeza desse olhar

O medo que não consigo superar

Rogo a Deus o renascer da Paz.

 

22/04/06

São Paulo - Capital

www.lulicoutinho.prosaeverso.net

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