Abri a janela do meu quarto

         Naquela noite

E havia uma estrela mais brilhante e próxima

Que se espelhava no meu olhar

         Chamando-me como se quisesse animar-me, falar comigo,

         Cintilando como se fosse rainha do céu e de mim...

 

         Então, no silêncio, imaginei essa estrela escondida e anónima,

         No Mirc branco e luminoso do ecrã

E tu vieste então fazer um PVT na minha alma

Acenando-me com o esplendor do teu nome – apenas Chris

 

Abriste uma janela nos meus olhos gastos

Da busca de uma estrela-guia

Pelos caminhos nocturnos,

Escuros e desertos de esperança.

 

         Entraste como estrela luminosa na treva do meu céu...

 

         E eu que não sabia que as estrelas também amam

         E sorriem com a ternura angelical das crianças

         Quando afagam seus bonecos de pelúcia

         Irradiando luz do seu além!...

 

         Senti que eras mais do que criança, uma mulher...

         E eu que sempre dividia as mulheres em Deusas e Demónios

Ignorava que podiam transformar-se em estrelas ou ser anjos,

E que soubessem comunicar pelas palavras...

 

Trazias nelas ondas de espuma imensas de inocência

E fazias milagres holográficos

Num raro sortilégio de sorrisos,

Como se apenas estivesses brincando com os fotões da luz.

 

Ensinaste-me a sorrir e a chorar ao mesmo tempo,

Despertando minha criança adormecida há séculos

Mumificada e descrente de estrelas e luar.

 

Agora, na janela do meu céu, quando te vejo

Quero dizer-te amizade e não consigo.

Quero dizer-te paixão mas calo e choro.

Tento dizer amor e fico mudo

Na impossibilidade da palavra exacta

Para um estranho sentimento, sem um código,

Que não é coerente com teu brilho.

 

Quero dizer que te amo e tenho medo

         Que a frase seja errada, intraduzível

         Para a linguagem críptica das estrelas...

 

         Deves gravitar próxima de um planeta oculto

         Onde os pássaros são de vidro transparente

         E onde as palavras se dissipam luminescentes

         Em miríades de chispas coloridas

         Que são os electrões da emoção.

 

         E sempre, desde então

         Te espreito na janela

Na minha solidão das noites

Com o sangue célere envenenado de angústia a correr nas veias

         Esperando que o renoves,

         Tragas vida

         Às horas mortas do meu coração morto.

 

         E quando chegas iluminas o Mundo,

         Inundas minha alma de alegria

         Tornando um poeta solitário

         Numa criança como tu, inocente e feliz.

 

         Até beijo o ecrã, vê tu!...

         Tenho de contar-te isto, mas desculpa:

         Passo suavemente os dedos gastos no vidro liso

         Para tentar sentir as curvas dos teu seios que imagino lindos,

         A ligeira penugem da tua pele macia,

         O cabelo sedoso de anjo ausente.

 

         Às vezes, mais solene

         Ajoelho a minha alma e o coração treme,

         Vulnerável e frágil

         Ante a tua grandeza inexplicável neste mundo humano

         De Deusa viva,

         Algures planando num Olimpo qualquer...

 

         Sei apenas que estás ali, inatingível,

         Vivendo algures num grande jardim florido

         Onde a lua te pertence

         E o mar, quando quiser, pode beijar-te.

 

         E aspiro o teu perfume, percebo a tua graça, a sensual doçura

         Que me grita sem eu querer um corpo de mulher

         Oculto virtualmente num firmamento inalcançável.

 

         E quando preenches meus vazios (são tudo sensações...)

         Com a tua voz distante de menina, no além de dentro,

         Sinto que poderia ousar libidinosos gestos de posse

         Pelas veredas proibidas e côncavas dos teus vales.

 

         Na minha loucura afago teu rosto no ecrã,

         Beijo docemente os hologramas dos teus lábios

         Tímidos na sua meiguice e algum desejo

         De sentirem também algum amor...

 

         Atrevo-me a carícias consentidas, que não vês,

         E adormeço tua cabeça de menina cansada no meu colo

         Como se fosse um Deus a proteger-te da luxúria dos homens...

 

         Imagino histórias de duendes e gnomos para te fazer dormir

         Com um sorriso de flor na boca

         E palavras bonitas para nunca mais chorares

         Quando os “pelouches” não respondem tuas interrogações...

         Não sabes que os “pelouches” não falam?...

 

         No fim, regressas ao Planeta onde orbitas

         Desenhando no meu desktop entristecido

         As marcas de coração dos teus lábios rubros,

         E foges para a imensidão de um azul incógnito,

         Misteriosa e linda, cintilando,

         Para ires esconder-te num paraíso que ignoro,

         Deixando meu coração descompassado e os lábios secos...

 

         Depois imagino um poema de ti que não sei escrever...

 

         Fico parado, perdido e absorto

         Sem entender a coerência

Deste amor sem nexo

Que me faz sorrir e chorar, tudo a um tempo,

E pensar que como estrela e anjo não tens sexo.

 

Limpo as estúpidas lágrimas dos meus olhos

E o embaciado dos meus óculos

Pela dádiva divina que já é a emoção de supor que existes.

 

E desço à banal realidade do meu chão,

Cogitando que de súbito algum dia

Entres pela janela aberta do meu quarto

E me venhas dizer, com verdade, num sussurro

Que afinal és mortal, humana e também amas,

E só pairas no meu céu para eu poder sonhar.

 

Lisboa, 14/OUT/2000

Vitor Figueiredo

Poeta e Escritor Português

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