Esta Página é uma mistura de sátiras & brincadeiras onde fica aqui explícito a diversividade  deste autor, "Romântico...Triste ...Alegre...Satírico...com a mesma facilidade escreve em poesia todas as facetas da vida .

+Poemas do autor

Joaquim Sustelo

O QUE FEZ DEUS? 
 
 
Deus fez o Universo e este Mundo
Em seis dias
Terá tido num trabalho tão profundo
Muitas canseiras
Mas imensas alegrias
 
 
Imaginemos o Céu
Todo estrelado
E a alegria que Ele teve
Ao ver aquele efeito... iluminado
Com milhões, biliões, triliões de estrelas,
Tão distantes
Tão brilhantes
Cintilantes
E tão belas
 
 
Imaginemos o Mar,
Tão grande,
(Imenso…)
Com tantas maravilhas lá no fundo,
Que a gente custa até a acreditar
Que haja coisas tão lindas
Neste Mundo
 
 
Imaginemos os peixes,
As aves,
Os animais
Desde os minúsculos aos gigantes,
E como seria triste o Mundo
Sem tudo isso dantes...
 
 
E pensemos nas árvores tão sombrias
Sob as quais a gente às vezes dorme
(Só é pena não ser todos os dias...
É claro que é conforme...
Conforme o vagar
E o calor aperta ou não aperta...)
 
 
Mas uma coisa é certa:
Deus,
Tão grande,
Tão bom,
Justo,
Omnisciente,
Omnipotente,
Fez tudo isso para bem da gente:
O Céu,
A Terra,
Enfim, tudo o que vemos,
E sobretudo o que é NOSSO
Ou seja, o que já temos
 
 
Fez todo um conjunto
De que ainda só se descobriu
Um bocadinho...
Pois a Ciência na verdade
Ainda não chegou a tal complexidade
Vai descobrindo
Mas é devagarinho
 
 
 
Depois, Deus fez o Homem
E nessa noite
Dormiu descansadinho
 
 
No outro dia,
Já tudo feito então,
Deus acordou
E olhou
Para o rosto do Adão
(Como sabem
O primeiro homem que existiu)
 
 
Olhou
Mirou
Mirou
Olhou
E nenhum dos dois sorriu
 
 
Adão estava triste
Sentia-se sozinho...
(Imaginem a tristeza que existe
Quando a gente se sente só,
Sem ter ninguém que nos conforte,
Que nos quebre esse desnorte,
Sem ter uma ternura...
Um carinho...)
 
 
E Deus meditou...
Pensou,
Cogitou
No que é que Adão quereria...
E ficou de tal modo
Que naquele dia
Andou preocupado o dia todo
 
 
Mas, ao mesmo tempo,
Sentia-se feliz:
O Universo estava feito,
O Homem também estava,
E, embora este não fosse assim... perfeito,
Era a Sua imagem e semelhança
Que ali estava
 
 
Chegou a noite
Deus adormeceu então
(Aliás, Deus não dorme...passa pelas "brasas")
No outro dia, talvez Adão
Tivesse uma cara melhor,
Uma cara diferente...
Afinal, pensando bem,
Nem sempre se pode andar contente
 
 
Porém, quando acordou,
Nesse outro dia,
Viu que Adão continuava triste...
Não esboçava nem um sorriso
De alegria
 
 
Era preciso
Descobrir então
Uma solução
E perguntou:
- Ó Homem, tu que és das obras mais perfeitas
Que já fiz,


 
Porque é que andas assim?
Porque não estás feliz?
Conta aqui p'ra mim!
Desabafa tudo!
Diz!
 
 
Então, Adão, trémulo,
Respondeu-Lhe assim desta maneira:
"...Talvez, se existisse uma mulher...
...se houvesse para mim uma companheira...
que me caísse no goto..."
Depois, mais firme:
" Eu sei que isto é uma asneira
E o meu pedido
Vai caír com certeza em cesto roto..."
 
 
Mas Deus, altivo,
(Perdão...Omnipotente)
Com o dedo apontado
Na sua direcção
Disse: "Maroto!
Não te basta a ti Eu estar contigo?"
(E, ao tocar-lhe com o dedo na barriga,
Inventou o umbigo)
 
 
Mas quem podia
Numa altura tal
Levar aquele pedido
Assim a mal?
 
-Deus nunca o faria!
 
 
E fez então a Eva
Com grande empenho,
Devagar, com cuidadinho,
(Ainda por cima
Quase nem tinha matéria prima...)
E pô-la no caminho
De Adão
Que estava só
 
 
Deus, como bom,
Achou que ele merecia
E teve dó...
 
 
Mas...Ó Céus!
Que coisa tão esquisita
Então aconteceu!
Até aí, tudo fora tão diferente...
Rolara sobre esferas, lindamente
 
 
Depois, quando Deus fez
Essa mulher,
Que ideias pela cabeça Lhe passaram?
É que a partir daí,
Desse tal dia,
Nunca mais houve paz
Nem harmonia,
Nem Deus… nem o homem descansaram.
 
 
Joaquim Sustelo
1986


 
POLÍTICOS
 
 
O povo, vocês enganam,
Prometem continuamente
Mas não cumprem e profanam
Os altos valores da gente
 
 
Mentem sem contemplações
E o tempo ainda vos sobra
Mas, em vésperas de eleições,
 Aí...inauguram obra!
 
 
Ah, se um dia o povo acorda
E vê como é governado...
Decerto dá-vos a "açorda"
 
 
Que isto de andar enganado
Nem com mulher feia e gorda
O homem fica  calado…
 
Joaquim Sustelo
29.09.2004
 


 
EM TEMPOS QUE JÁ LÁ VÃO
 
 
Combinaram uma estafeta,
Um coxo, um calvo e um mudo,
Um cego, um bruto (1), um maneta,
Mais um surdo e um pançudo   
 

Mas a estafeta não era
Das que vós estais a pensar.
Era uma coisa mais bera (2):
Pensaram em ir roubar
 
 
E lá foram, com compasso,
Na mira de um galinheiro
De um senhor que era ricaço
Com galinhas… e dinheiro
 
 
“Vamos ficar todos ricos
Toda a vida  sê-lo-emos
O homem tem uns cem bicos (3)
Raios partam se os não trazemos!
 
 
E a respeito do dinheiro,
Ou virá muito, ou algum”;
(E combinaram primeiro
a parte de cada um)
 

Isto diziam satisfeitos
Os “senhores” da reunião
Enquanto iam direitos
Quase como uma excursão,
 
 
Ao sítio do “material”
Que eles queriam roubar
Enfim, uns bem, outros mal,
Conseguiram lá chegar
 
 
Atrás de uma alta parede
É que foram encontrá-las      /       (as galinhas)  
Diz o pançudo “eu sou leve!
Deixem-me lá ir buscá-las…”
 
 
“Não!” respondeu o maneta
“Ires lá  tu, isso é que não!
Vou lá eu que sou atleta,
Vem metade em cada mão”
 
 
E diz o bruto “o que estão
Para aí a discutir?
Ralhar é que não é bom
Pois elas podem ouvir,
 
 
E “safar-se” por entre a rede
Ficando nós na pobreza
Deixem-me saltar a parede
Com  toda a minha esperteza!”
 
 
 
Estando assim a combinar
Qual iria lá acima,
Diz o surdo “oiço falar…
Olhem que isto não me anima…”
 
 
E diz o mudo “escutem lá,
Pois este não é o bruto!”
Diz o cego “venham cá!
Estão a ver aquele vulto?”
 
 
Vem o calvo: “exactamente
É o dono, estou a vê-lo
E digo sinceramente,
Arrepia-se me o cabelo”
 
 
E o coxo: “olha a lanterna
Que ele traz para nos ver…
Deixem-me lá pôr na perna…”
E abalou a correr
 
 
Então os outros todos vendo
A sorte que os espreitava,
Lá foram todos correndo
(Um por um o imitava),
 
 
Até ficarem bem longe
Da casa do lavrador
Ali ninguém os veria
E falariam melhor
 
 
Foi à beira de um regato,
Sentados na erva fria,
Que acabaram por ficar
Fazendo-se companhia
 
 
Diz o pançudo “fiquei
Com a barriga vazia…”
E diz o cego “e eu nem sei
Como, de noite, ainda via!”
 
 
E diz o calvo: “Ó parente
Grande medo só de vê-lo!
Não me emprestas o teu pente
Pra  pentear meu cabelo?”
 
 
Logo, de mãos na algibeira,
Exclama assim o maneta:
“Vejam que tal a carreira (4)
Que eu até perdi a cheta… (5)
 
 
Diz o surdo: “escutem lá…
Oiço falar aqui perto…”
“É o dono que vem cá…”
Conclui o bruto, tão esperto
 
 
“Será que não é mentira?”
Pergunta o mudo a bom rir
“O camarada delira…”
Diz o coxo: “eu vou fugir!”
 
 
Com medo e desiludidos
Fizeram nova arrancada.
Nem galinhas nem dinheiro
Nunca conseguiram nada
 
 
Esta famosa estafeta
Aconteceu nesses tempos
Em que o burro era um atleta
E as galinhas tinham dentes.
 
 
 
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(1) "bruto" usa-se muito no Algarve, em vez de "parvo"
(2)  bera= pior
(3)  "bicos" também se usa muito em vez de "galinhas"
(4)  carreira= corrida (usa-se também muitono Algarve)
(5)  cheta= dinheiro
 
 
Joaquim Sustelo
1964    (Dedicados à minha mãe, que me contava esta história desde pequenino.
Compus então os versos, aos 16 anos)
 


 
 BUCOLICAMENTE VERSEJANDO…
 
 
 
Um dia, de manhãzinha,
Vindo o sol a despontar,
Levantei-me e... sorte minha,
Ouvi meu bem a cantar
 
 
Quem esperas? - perguntei eu,
Chegando a esse lugar
O que foi que hoje te deu
Para me vires ver passar?
 
 
E ao fim de um bom bocado,
Olhando baixo e de lado,
Respondeu-me em tom maroto:
 
 
"Descansa lá, Joaquim!
Nem me lembrava de ti,
Esperava era pelo outro..."
 
 
Joaquim Sustelo
1964    (aos 16 anos)
 
 


 
O CONSELHO DO ADVOGADO
 
 
 
Tinha o senhor capataz
Um cão um pouco travesso
Para comer era capaz
De chegar onde pudesse
 
 
Numa árvore viu um cesto
De um pobre trabalhador
Pendurou-se presto e lesto
Comeu-lhe tudo, o estupor
 
 
O pobre foi pra almoçar
Mas, claro que aquele pançudo
do cão, já a descansar,
Lhe tinha comido tudo!
 
 
Ora, o senhor capataz,
Era também advogado
E portanto era capaz
De julgar pela verdade
 
 
Chegou-se o homem ao pé dele
E, com ares de já saber,
Foi-lhe pedir um conselho
Que é que havia de fazer…
 
 
"Sr. Doutor" (ou patrão) disse
"Se lhe comessem o almoço,
Perante uma tal chatice
Fosse um cão... ou o que fosse,
 
 
O que é que o senhor faria
perante uma tal afronta?
Nada significaria
Ou faria pagar a conta?"
 
 
"Eu" responde o advogado,
"Perante uma coisa tal,
Queria o almoço indemnizado
Pelo dono do animal!"
 
 
"Queria?", pergunta o homenzinho;
"Pois saiba, o cão era seu!
Quero dez paus (*) em dinheirinho
Pelo almoço que comeu!"
 
 
E com a comida paga
Já lá ia porta fora,
Quando o patrão, lá da sala,
O chamou naquela hora:
 
 
"Tem dez escudos, bom velho...
Para almoçar, dei-lhe a massa
Venham trinta p’lo conselho
Que eu não trabalho de graça."
 

Joaquim Sustelo
1965 , aos 17 anos   (dedicado aos meus pais, que me contavam esta história; com base nela,
fiz os versos)

(*)dez "paus" ou dez escudos, como sabemos. Em 1965 almoçava-se
com esse valor.


 

 BRINCANDO COM A PROMOÇÃO DE UM COLEGA (DO BANCO)
 
 
 
Em Valezim, certo dia,
ainda não muito distante
em tosca pocilga havia
um porco que andava tonto


Tonto porque não comia
nem tremoço, nem farelo,
nem milho, fava, ou aveia...
O pobre andava amarelo


Ralhava com ele o dono
bastante preocupado
Mas o porco andava mono
(Falava-se em mau olhado...)


É que o animal sabia
qual a sua triste sorte:
e por isso não comia
antevendo já a morte


Parecia que adivinhava!...
E um dia, pelo Natal,
um dos da casa falava
de um jeito assim, tal e qual:


"Meu pai, não espere mais tempo!
Agora, que tem ajuda,
traga a faca, vá para a frente,
que o maldito já não muda!"


Foi-lhe a faca ao coração
com uma tal rapidez,
que dois minutos então
passados, morreu de vez


"Agora está numa boa"
disse o que fora da ideia
"Deixa-me ir para Lisboa...
Fiz o que queria na aldeia"


Pouco tempo decorrido
volta o finório à terra
E um presunto traz escondido
lá dessa aldeia da serra


Chega cá e diz à malta
que já ia para o comer:
"Este aqui não vos faz falta
e tenho de o oferecer"


Mete-o debaixo do braço,
tapa-o de qualquer maneira,
acelera um pouco o passo,
vai à Nuno Álvares Pereira,                (rua onde o gerente morava)


Toca o ferrolho: "Senhora,
abra a porta... é o Ribeiro...
Olhe, venho em boa hora?
Eu trago um presunto inteiro!


Sempre gostei do gerente,
da maneira de ele ser...
E digo-lhe: aqui para a gente,
gosto muito de oferecer"


Após isto vai-se embora
dorme um sono descansado
pois sabe que não demora
tudo o que tinha sonhado


Mas qual a moral então,
da história? - perguntareis.
-É simples: a promoção
do nível cinco pró seis.



Joaquim Sustelo

(entre 1980 e 1985)


 
O GATO FEZ DESACATO
 
 
O gato
fez desacato
Tombou o prato
porque ao olfacto
não lhe agradou
E o pacato
do cão, sujou


O cão,
esse grandão,
bonacheirão,
mas valentão,
fez-se trovão
logo rosnou


Vai para o gato
p'ra lhe morder...
Este, num salto,
Recua e faz-se
subir, crescer...



Pêlo eriçado,
dobro em altura,
aguarda o cão
cheio de bravura



A Dona Micas
dona dos dois,
com tais intrigas
não pode nada!
E vai depois
sem mais demora
traz a vassoura
arreliada


Mas quando chega
tudo é sossego
Tudo se entrega,
mediu-se o medo


Caía a noite
bem de mansinho
e houve um repasto
sossegadinho


Mais tarde o cão
quase sorrindo,
na sua cama
estava dormindo
Junto à barriga
bem enroscado,
Lá estava o gato
tão sossegado...



E a Dona Micas,
a sua dona,
quando isto viu,
também dormiu
que bem ressona



Homens que fazem
guerra
na Terra
e assim extravasam
vossos caprichos,
não é notável
e invejável
olhar assim
a paz dos bichos?


Vocês que são
os racionais,
vossos rancores
são bem piores
que os de animais!



Joaquim Sustelo
11.10.2004
 


 
 
A AUDIÊNCIA
 
 
 
Muito descansado andava
Um camponês a lavrar
O boi, adiante, puxava
Ele, atrás, a assobiar...
 
 
E assim, daquela maneira,
O homem nem reparava
Que uma linda figueira
No seu trilho se encontrava
 
 
Mas, inda que a visse depois,
Era o mesmo que a não ver:
Picou uma mosca no boi,
Este largou a correr,
 
 
E, passando p'la figueira,
Manda-lhe uma tal cornada,
De tal força e tal maneira
Que lhe arrancou uma pernada
 
 
O pobre homem, coitado,
Trazia a terra de renda
Um senhor bem abastado
Era o dono da fazenda
 
 
E então esse senhor
Sabendo do sucedido,
Vem ter com o lavrador
P'ra reaver o perdido:
 
 
"Tem que me pagar"dizia
"A figueira que estragou!"
E depois, com ironia,
"Não foi você que a plantou!
 
Não foi você a estragar
Mas foi o seu animal!
Por isso, se não pagar
Levo-o para Tribunal!"
 
 
Palavras não eram ditas
Ainda mal proferidas
No Tribunal eram escritas
Por mãos doutas e sabidas
 
 
O homem foi responder...
"Conte lá!", diz-lhe o juiz
"Vamos lá então saber
O que é que o senhor nos diz!
 
 
Se se resolve a pagar,
Faça-o com satisfação
Mas, se a isso se negar,
Irá parar à prisão!"
 
 
 
Então, começou o réu
A contar o sucedido
Citando assim como  o seu
Um exemplo parecido:
 
 
"Sr. Doutor juiz, perdão
Por ter esta liberdade,
Mas como comparação
Pode crer que fui "forçado"
 
 
A mudar o Sr. Doutor
Para a "pessoa" do meu boi
P'ra explicar com mais valor
Todo o assunto, o que foi...
 
 
Por exemplo, vamos supor
Deixando o Tribunal
Que agora o sr. Doutor
Era um boi... um animal...
 
 
Que uma mosca lhe picava
Ou p'ra melhor, lhe mordia...
O senhor não se ficava
Concerteza que fugia!
 
 
E correndo sem contornos
Indo assim sempre a direito
C'um valente par de cornos
Batesse bem a preceito
 
 
Em qualquer uma arvorezinha
Que por diante lhe surgisse
A culpa seria minha
Se o sô Doutor a partisse?
 
 
Porque o senhor, galopando,
Quem é que o dava agarrado?
E eu ao pé de si chegando
Já a havia derrubado!
 
 
Mas desculpe, senhor Doutor
Por eu o tratar por tal
Foi só p'ra explicar melhor
O caso do animal"
 
 
Então o juiz, espantado,
Exclama para a assistência:
"Este homem está desculpado
Terminou a audiência
 
 
Até mais que desculpado:
Ele tem toda a razão
Vê o assunto, deslumbrado…
Sabe tão bem enfrentá-lo,
Medita em tudo o que diz,
E até sabe contá-lo
Na pessoa de um juiz!"
 
 
Joaquim Sustelo
 
1965, aos 17 anos (baseado numa anedota que a minha mãe contava) 
COISAS À DISTÂNCIA
 
 
 
Dizem que há certos fenómenos
Lá para o Entroncamento
Mas há coisas bem mais raras
Aqui mesmo ao pé da gente
 
 
Estava há dias o São Pedro
A ver a Terra, do Céu,
Eis senão quando, uma coisa,
Lhe fez tirar o chapéu
 
 
E diz ele à moda antiga:
"Pasmem celestes! Que cousa!
O que será que ali vai
Ao pé da Ponte de Lousa?"
 
 
Nisto, alguém mais se aproxima,
E ele vai descrevendo:
"É um carro de quatro rodas
Que por ali vai correndo...
 
 
Não é bem dos pequeninos
É qualquer cousa maior...
Ouço um barulho esquisito...
Ah… já sei… é do motor
 
 
Tem uma cabine à frente
Com um homem a guiá-lo;
E atrás, no meio de tábuas,
Enxergo um vulto a cavalo
 
 
Que será? Será um boi?
Parece... pelos contornos.
Mas a idade não permite...
Não vejo bem se são cornos...
 
 
Só sei que por entre as tábuas
Vai a cabeça metida
Deve ser a apanhar fresco
Aproveitando a corrida...
 
 
Que grande desgosto, irmãos,
Por ter a vista cansada!
Mas mesmo não vendo bem
Acho que é cousa engraçada..."
 
 
Ouve isto, a Virgem Maria,
E sendo bastante nova,
Sem nenhuma dioptria,
Lá vem pôr a vista à prova


 
 
Mal olha, diz: "não se cansem...
Para quê tanto trabalho?
Aquilo é o S..... L....
Com o Albano do talho."
 
 
Joaquim Sustelo
 
(Por volta de 1985, penso...Estes versos foram dedicados a um dos melhores amigos.Foi colega do Banco,  morava na Venda do Pinheiro e vinha de vez em quando de boleia, com o cliente Albano, que tinha um talho.O transporte era uma carrinha de caixa aberta e nós, numa sã convivência, brincávamos, dizendo que ele vinha lá trás na caixa, preso com cordas. Claro que, mesmo sendo neste espírito, teve de haver omissão do nome no poema).
 


 
 
CERTA VEZ, DOIS NAMORADOS
 
 
(baseado em anedota)
 
 
Certa vez, dois namorados,
Ao luar, aconchegados,
Trocavam beijos de amor
Era tamanha a constância
Que a Lua, mesmo à distância
Se tingia de rubor


Nisto, nuvem passageira,
Tapa o astro. Ela lampeira:
"Porque é que a Lua se esconde?"
Logo ele de imediato
Usando todo o seu tacto
Com ternura lhe responde:


"Sabes... é envergonhada...
Prefere ficar tapada
Perante a tua beleza"
"Oh, que bom!" -ela lhe diz,
"Como me sinto feliz!"
E aperta-o,  com firmeza


Passado tempo, casaram
Ao mesmo local voltaram
Quem sabe... para recordar...
Cobre-se de novo a Lua
Ao passar uma nuvem escura
E ela torna a perguntar:


"Porque é que a Lua se esconde?
Será que ela nos viu onde
Nós estamos a conversar?
Oh, que bom sentir de novo
Um amor que tanto estorvo
Provoca ao próprio Luar!"


Mas ele, vendo o céu escuro,
Muda a voz, torna-se duro,
E grita para valer:
"Tens de ter vista mais larga!
És tão estúpida, tão parva,
Tu não vês que vai chover?"


Joaquim Sustelo
11.10.2004

 A INVASÃO DO IRAQUE
 
 
 
Invade-se um País com uma premissa
Falaz, pois toda a gente já sabia
Que as armas de destruição maciça
Não conseguiu provar-se que as havia
 

Era enorme, das riquezas, a cobiça
Dos lobbies a pressão era tamanha,
Que se dá, sem pudor, início à liça
Que milhares já matou... e que vergonha!
 

Vós que das guerras tendes saudosismo
Fazendo delas o vosso terrorismo
Num gesto abominável de canalhas,
 

Parai, que são injustas essas liças!
Que uma arma de construção maciça,
o pensamento... vencerá vossas batalhas.
 

Joaquim Sustelo
20.10.2004
 


 
PAGA OS TEUS IMPOSTOS
 
 
 
Quando Deus deu o dom de ser alegre
Encontrava-me na fila, lá ao fundo;
Mas mesmo sendo o último, inda integro
O grupo dos alegres deste Mundo
 
 
Assim, essa alegria, esse apanágio
Anda comigo e pretendo transmitir
Fazer nalguns amigos o contágio
Por vezes sou feliz por conseguir
 
 
Estando eu então na posse deste riso,
A um amigo disse: "Companheiro,
Paga os teus impostos com um sorriso!..."
 
 
"Eu já tentei..." diz-me ele prazenteiro
Mas eles me mandaram ter juízo
Que o sorriso não dá... querem dinheiro…
 
 
Joaquim Sustelo
28.10.2004


 
 
PLATÃO, NOS SEUS AMORES…
 
 
Platão, nos seus amores, era platónico
Aristóteles,  por certo,  aristotélico
Dalton, terá tido um amor  daltónico
E Hitler, teve o seu amor tão bélico...
 
 
Pitágoras, seu amor foi matemático
Carlos Magno, teve um amor magnânimo
Da Letícia um amor bem mediático
Cada qual tem o seu, que lhe dá ânimo
 
 
Bocage, amores fugazes, o boémio...
(Que se gaba de ter tido esse prémio)
O de Bush, como Hitler, também bélico
 
 
O meu, que sou feliz... e infeliz...
Que a quero e ela me quer, mas não o diz,
Será que vai chamar-se amor sustélico?
 
 
Joaquim Sustelo
12.11.2004
 


 
ESTE HOJE, QUE É DEPOIS DE ONTEM
 
 
Este hoje, que é depois de ontem, não te vi...
Mas ontem também não te tinha visto
Por isso, de dizer-te, não resisto
-É claro, tenho saudades de ti
 
 
Tão cedo, até já sei, não irei ver-te
O que fará que a isso me acostume
Não soltarei porém nenhum queixume
Quem sabe... viverei mesmo sem ter-te?
 
 
Só temo, pois começo a ficar mole,
Que coisa má já tenha em mim ficado
Pois, fraco, já  me custa olhar o sol
 
 
Até  tenho para mim  conjecturado:
Serei eu como o burro do espanhol
"Foi-se" com fome... já quando habituado?
 
24.11.2004
 
Joaquim Sustelo


O BURRO DO ESPANHOL
 
 
O burro do espanhol é brincadeira
Que conto (hoje estou nas alegrias)
O espanhol dava-lhe tudo, "à maneira",
Favas, cevada e outras iguarias

Um dia cogitou, já muito aflito:
-Este gajo, em despesa, põe-me louco!
Vou mas é reduzir o trato ao dito
Deixará de comer a pouco e pouco...

Assim fez. Dia a dia que passava,
Menos comida ao burro ele já dava
Pensando acostumá-lo e que o engana

Passado um mês… morreu. Ele admirado
Exclama: "agora que estava acostumado,
É que me foi morrer, este sacana?!"

Joaquim Sustelo
24.11.2004


 
 BRINCANDO COM UM GLOBO TERRESTRE
 
 
 
 
 Brincando com um globo à minha frente,
Da Terra, até lhe estou a achar graça
E duas brincadeiras que aqui faça
Dará prós bem dispor, pois, certamente
 
 
Há coisas que vos digo: não encaixo
Uma delas, por exemplo, não me rima
Se onde estou tenho a cabeça para cima
Na Austrália estão com ela para baixo?
 
 
Depois outra: haverá quem me responda?
Oiço dizer que a Terra é redonda
Achatada nos Polos. Na verdade,
 
 
Redonda me parece  pelo globo
Mas também acho e digo desde logo,
Não será ela chata em todo o lado?
 
 
Joaquim Sustelo
24.11.2004
 


 
 
 
MINHA CAIXA DE CORREIO
 
 
 
Minha caixa, em correio, é Feira Nova
Carrefour, Continente… ele é Peugeot
Parece que até fazem um complot
E querem pôr-me a paciência à prova
 
 
Despejo-a todo o dia e ela renova
Com nova propaganda fica cheia
Se soubessem que não lhes ligo "meia",
Pois deito tudo ao lixo, lá na cova...
 
 
É Finanças, é Câmara, é política...
Depressa bem a enchem, que é raquítica,
São "marquises", "pedreiros", tudo ali...
 
 
Privacidade? Autêntica invasão!
Umas eu guardo. Outras não vejo, não!
Só uma carta… nunca não tenho de ti.
 
 
Joaquim Sustelo


 
 
MIM E TU
 
 
Não há bela sem senão
Nem há paz sem o sarilho
Nem  irmã sem o irmão
Nem pai sem haver o filho
 
 
Não há baço sem o brilho
Nem amor sem coração
Nem janela sem caixilho
Nem noite sem escuridão
 
 
Não há justo sem justiça
Nem riqueza sem cobiça
Nem coberto sem o nu
 
 
Nem "assado" sem assim...
E tenho aqui para mim
Não há "mim" sem haver "tu."
 
Joaquim Sustelo
26.11.2004
 
 
 
 


 
ANEDOTA, CÃO E GATO
 
 
 
Numa rua de Albufeira
Turistas a abarrotar,
Deu-se assim desta maneira
Um caso que vou contar
 
 
Cruzou-se um gato e um cão
Nesse passeio cheio de gente
Logo o cão lhe diz "ão... ão"
(Fica bem um cumprimento)
 
 
Vejam como as coisas são
Às vezes surpreendentes:
O gato responde "ão... ão"
E o cão lhe rosna entre dentes
 
 
"Meu miserável, te digo!
O que é que agora te deu?
Toma cuidado contigo
Tu, mias."Ão...ão" só eu!”
 
 
Torna o gato "senhor cão
Não me vai levar a mal…
Tudo tem uma explicação
E vou dá-la... é natural:
 
 
Não quero morrer à míngua,
Pois nesta terra, cuidado!
Quem não souber outra língua
Pode crer que está lixado!"
 
 
Joaquim Sustelo
01.12.2004


 
 
POEMA COM NÚMEROS
 
 
 
Eu 20 já dizer 100 ter  problema
Que ando aqui a 9 para te ver
100 ti ando tão triste e 1 poema
60 então meu corpo para escrever
 
 
Minha alma 70 a o fazer
70  o coração a te contar
40'ena faço já 100 perceber
Como é que assim 100 ti posso passar...
 
 
Não sei porque por ti então 70
O coração que a 9 se apresenta
E nunca  quer viver 100 ser contigo
 
 
60 aqui o corpo, é natural...
20 contar não leves pois a mal
Se 70... 100 dizer… não consigo.
 
 
Joaquim Sustelo
07.12.2004


 
ANEDOTA (O ALENTEJANO E O GATO)
 
 
O homem tinha um gato tão traquina,
Guloso que era um a-ver-se-te-avias
Desse que salta, corre, e que se empina,
Dá-lhe conta de todas  iguarias
 

Então pensou: "o gajo tem de ir fora!"
Mete-o dentro do carro... ele aí vai...
E  uma légua andada, “vamos, bora!"
Lá abre a bagageira, o bicho  sai
 
 
Porém, chegado a casa, já se admira
Com o que vê ali: o companheiro,
Tinha ficado lá?  Era mentira!
Já regressara a casa e bem primeiro!
 
 
E pensa: "que  filho duma magana!
Será que o deixei perto? Pois talvez...
Eu já trato de ti para a semana
E por lá ficarás, mas é de vez!"
 
 
Repete a operação, o bicho leva,
Num percurso que é agora mais distante
E torna… "nunca mais este me enerva"
Voltando assim a casa radiante
 
 
Mas, qual quê? Ironia do destino
Mais uma vez o homem estava errado
Quando a casa chegou lá estava o "fino"
A dormir à lareira, repimpado
 
 
"Ó gato dum sacana! Que diabo
Eu não hei-de dar conta deste alarve?
Vou levá-lo bem longe! Ao fim e ao cabo
Pra que é que eu ando aqui armado em parvo?"
 
 
No outro dia acorda bem cedinho…
Dormia toda a gente lá na terra
Amarra-o bem no saco, e o bichinho
Na mala vai, do carro, até à serra
 
 
Por lá ele dá tanta e tanta volta
Sobe, desce, em circuito tão completo,
Que no fim disso tudo o gato solta
Seguindo sempre  no carro o seu trajecto
 

Dois dias leva o homem  a andar...
Sem o gato, seu riso ele extravasa
Até que se decide a  telefonar
Ver como estava tudo lá em casa
 

"Maria, o nosso gato já chegou?"
-"Já" - lhe diz ela - "vinha esbaforido";
"Sabes-lhe  torna ele- olha que estou...
...Melhor  falar com o gato... ando perdido..."
 
 
Joaquim Sustelo
02.12,2004


 
MULHERES (SÁTIRA)…
 
 
Coração de mulher é complicado
Quem é o felizardo que interpreta?
Ela mete o amor numa gaveta
Se o homem lho declara, entusiasmado
 
 
Ele sim... ela não... caldo entornado
É raro ele entender sua faceta
Muitas vezes se diz "não se intrometa
Em guerras de casal", que estrá tramado
 
 
Mulheres… cada uma um ser esquisito
Que quando dão amor ele é bonito
Mas trocam-nos as voltas, as marotas
 
 
Mulheres… a pior "coisa" que há no Mundo
Mas sem ver o que têm, lá no fundo,
Há que viver com estas, não há outras...
 
 
Joaquim Sustelo
23.12.2004


 
 
 
AMO-TE…
 
 
(Esta sátira/brincadeira surge na sequência do comentário feito por uma amiga, ao outro poema,  desta mesma data, "Mulheres (sátira)":
 
 
 
Continuando assim nesta toada
Ou seja, nesta sátira mordaz,
Há uma anedota que me apraz
Contá-la, dado que é muito engraçada
 
 
Que a anedota curta, ela é alegre
E esta é a mais curta que conheço
Com três palavras, episódio esse,
Não há, quem ao ouvir, a rir se negue
 
 
O homem no sofá, a ler, na sala...
Eis quando a mulher vem e chega à fala
Interrompendo então seus afazeres
 
 
"Amo-te!"- diz suave... desta forma ...
E ele, distraído (ou era a norma?)
Pergunta de repente: "Quanto queres?"
 
 
Joaquim Sustelo
23.12.2004
 


 
 
CASAL ALENTEJANO (DIÁLOGO)
 
 
 
Ela:
-Maneli... que dia é hoji? Nã te recorda?
 
Ele:
-Sei lá Maria! Nã me desseste ainda!
 
Ela:
-Tal tá esta porquêra, esta açorda!
Trint'anos de casados… Té te esqueces!
Que nem um bêjo às vezes tu moreces
Quando dêxas passar data tã linda
 
Ele:
-Pois é,  Maria! Parece um fêtiço…
 
Ela:
-Verdade, Maneli. O amor é tã bonito!
 
Ele:
-E o qu'é que tu queres dezer com isso?
 
Ela:
-Ainda nã topaste? É que medito
E vejo o noss'amor tã às escuras...
Nós somos duas belas criaturas
Cá temos as nossas necessidades...
Sei lá... a gente sente... e ê cogito
Já faz tempo que tu nã me procuras...
 
Ele:
-Sei lá, Maria? A vida nã permite...
 
Ela:
-Ai é dessa manêra que respondes?
 
Ele:
- Ê sei, que procurar-te é tã bonito...
Mas olha... a culpa é tua...nã te escondes...
 
 
Joaquim Sustelo
23.12.2004


 
ANEDOTA (LUGAR SENTADO)
 
 
 
Percurso: Picheleira até Buraca.
O autocarro segue, cheio de gente
Agosto. Pleno verão. O sol é quente
Nem há brisa que sopre inda que fraca
 
 
Segurada à argola, lá acima,
Como tantos dos outros, também vai
Outra "brasa" p'ra ver se assim não cai
Talvez de uns vinte anos... que obra prima!
 
 
Ela transpira, mexe-se, ela sopra
E sob esse calor que tanto abrasa
Resolve então falar e extravasa
Ao passageiro sentado à sua volta:
 
 
"Senhor, quer ser p'ra mim um cavalheiro?
Será que pode dar-me o seu lugar?
Já não me sinto bem e vou ficar
Decerto mal disposta o tempo inteiro...
 
 
Sabe... é que estou grávida,  mais nada..."
E ele: "mas a barriga não se nota..."
"Foi só há meia hora", ela lhe solta
"Mas olhe que me sinto extenuada..."
 
 
 
Joaquim Sustelo
04.01.2005
 


 
 
TEM GRAÇA, NO QUE FAÇA…
 
 
 
Tem graça, no que faça, este Governo
Nem ralho, que o trabalho, ele é bem feito
O modo, é sempre todo... tão moderno
Dá gosto, nele aposto, ele tem jeito
 
 
Exemplo? - Um,  recente: -  preocupado
Em ter, ou em manter, os três porcento, (*)
Ele gere, ele transfere, fundo criado
Pela Caixa(**) e o "encaixa"… dá-lhe alento...
 
 
Após ter esses "pós",  o que é que faz?
-Lá vai, e se distrai, um dos Ministros,
Gastar, férias passar, a São Tomé;
 
 
Ditosa, briosa Pátria, que é capaz
De ter e ver crescer estes seus "quistos"
Que encantos, com descontos do seu "Zé!"
 
 
Joaquim Sustelo
12.01.2005
 
(*) os 3% como meta para o défice
(**) Caixa Geral de Ddepósitos
 


 
 
NESTE PAÍS ADIADO
 
 
 
MOTE
Neste País adiado,
Há tanto para fazer...
Parece tudo estagnado
E já ninguém quer saber...
 
I
 
"Meu pai, eu já sou ministro!"
-Serviu há anos de tema
Para lampeiro telefonema
(O filho, ao pai, disse isto)
É claro que não resisto
Fico logo indignado
Como um ministro empossado
Assim tanto se envaidece,
Enquanto o resto se esquece
Neste País adiado
 
II
 
É vê-los nessa promessa
De fazerem sempre mais
Que outros fulanos-de-tais...
"Vote em nós! Você não esqueça!"
"É claro que voto, ora essa!"
-Se apressa o "ZÉ" a dizer
E assim pensa que irá ver
Uma obra descomunal,
Depois vê que em Portugal
Há tanto para fazer...
 
III
 
Saúde, é o que se vê...
Educação, igualmente...
A Justiça, é comovente
Não anda, não sei porquê
Desemprego? Já nem sei
Com tanto desempregado…
Tudo desequilibrado
Fugas há... fracas receitas,
E que reformas estão feitas?
Parece tudo estagnado…
 
IV
 
Penso às vezes divertido
E digo com ar jocoso:
-Defendem todos o Povo,
Porque não um só Partido?
Mas logo, entristecido,
Se vejo bem resolver,
E de ares de melhor fazer
A oposição desaprova,
(Já fez também, hoje estorva)
E já ninguém quer saber!
 
 
Joaquim Sustelo


 
PONTUAÇÃO
 
 
 
Amo-te ainda? - (Interrogação),
(E há o travessão que a antecede);
Um dia amei-te muito! (exclamação)
Mataste nos meus pontos esta sede
 
 
Gostei (é natural), e pus parênteses
Agora não sei bem... (são reticências)
Pois tu, (e vês a vírgula na frente),
Deste-me ponto e vírgula; tens ausências...
 

Não sei porque será que assim te raspas
"Não quero!  (frase tua, ponho aspas),
Voltar a ter-te e está tudo acabado"
 

- Espera:(e então ponho aqui dois pontos)
Inda hoje os meus olhos ficam tontos
A ponto de te olhar assim de lado...
 
 
Joaquim Sustelo
20.01.2005


 
 
 
 
MEU CARO SENHOR BUSH
 
 
 
Meu caro Senhor Bush, Presidente
Dessa maior potência que há na Terra:
(O "caro" tem sentido aqui diferente,
Que é caro o sacrifício com a guerra)
 
 
Pensei escrever um pouco a tão ilustre
Pessoa que domina o Mundo inteiro;
- Não é? - Oh! se não é, então desculpe
Vossência manda e tudo é tão ordeiro...
 
 
Constou-me até que foi pois re-eleito
Ainda com mais margem do que há anos
Que acerca dessa vez que fez o "feito"
Más linguas 'té falaram duns enganos...
 
 
Não! E eu até penso que Vossência
Ganhando iria sempre no futuro
Não pode concorrer? Oh! Paciência!
Que o Mundo anda, consigo, mais seguro
 
 
Só esta "velha Europa" é que destoa
Das suas sempre justas invasões
Repare, ela é como a pessoa...
Está "velha", já não tem mais ambições
 
 
Julgará ela ver em si cobiça
Quando vê uma guerra assim fazer?
- E as armas de destruição massiça?
- Não há, é certo... mas podia haver…
 
 
E já estou como diz um jornalista
Tão bem conceituado em nossa praça:
Quem as sabe fazer sempre despista
E como é que sabemos se há quem faça?
 
 
Ou seja, no Iraque não achou
Mas podia bem tê-las encontrado
Democracia... quase a implantou
Vossência há-de dar conta do recado
 
 
Se não, nem que inda diga "vai lá tu!
São teus também os ossos deste ofício"
(E estou-me a recordar 'té da ONU
Que apenas foi esquecida no início)
 
 
É claro, um esquecimento qualquer tem
Só que a democracia era urgente
Pena foi ter morrido mais alguém...
- Quem os mandou lutar teimosamente?
 
 
Democracia!... Não irão "à bola"
Em ver um tal regime implantado?
É como a mim : Governo de "Ayatolah..."
Será que não ficava deslumbrado?
 
 
 
Vossência oferece e eles são ingratos!
Como não podem estar agradecidos?
E a gente a pensar que eram pacatos
Que até gostavam de ser invadidos...
 
 
Mas deixe... siga em frente, que algum dia
Alguém há-de render-se às evidências
Se acaso for Vossência (o que não queria)
Deixo-lhe já as minhas condolências
 
 
Governe estes quatro anos. Faça-o bem
Que o Mundo há-de então reconhecê-lo
Não ligue a "bocas" parvas de ninguém
Fique em saúde e paz.
                     - De mim... Sustelo.
 
 
 
Joaquim Sustelo
 09.02.2005
 
Nota: acabei de ler em jornal diário que mais de 100.000 pessoas já morreram em consequência da guerra no Iraque. Será verdade? Ou será  gente mal informada? Às vezes há umas más línguas...nunca se sabe do que são capazes…
 
 


 
 
EXPOSIÇÃO DE PINTURA
 
 
 
Diálogo entre um visitante de uma exposição e o pintor de um dos quadros que havia lá expostos:
 
 
 
 
- Naquela exposição de pintura,
Digo eu,
Não sem uma ponta de amargura
Para o fazer,
O único quadro que se podia ver
Era o seu
 
 
- Eu fico-lhe tão agradecido
Meu amigo!
Que perante isso apenas consigo
Dizer enternecido:
"Muito Obrigado",
... O que me ocorre, de repente
 
 
- Pois é, sabe, vi bem o seu quadro;
Diante dos outros havia tanta gente…
 
 
Joaquim Sustelo
 
 


 
 
DONA JACINTA
 
 
 
Dona Jacinta se levantava
E frente ao espelho logo mirava
 
Era bonita, longos cabelos,
Olhos brilhantes, que gosto vê-los!
 
Depois corria a se arranjar
Pintava as unhas, tudo a brilhar
 
Que bem trajava, Dona Jacinta!
Face rosada, nos olhos tinta
 
Era bonita! E ela sabia.
E era culta, que até escrevia!...
 
Sabia línguas, algumas três!
Até trovava, por tanta vez...
 
Era uma amiga (na acepção
que ela lhe dava) do coração
 
Fossem por ela... gostava mais
Quais discussões ou coisas tais!!!
 
E a verdade, se ela doía,
Por muitas vezes, não a ouvia
 
E ripostava, pobre infeliz,
Que salta a tampa, lá vai verniz...
 
Que pobrezinha, Dona Jacinta!
Mal empregado verniz ou tinta!
 
Certa cultura, ao intelecto,
Nada elucida sobre o trajecto...
 
Aprendizagem, ela mal feita?
Que tarde ou nunca... se endireita?
 
Quantas Jacintas já conheci
Na vida toda… até aqui?
 
 
Joaquim Sustelo
 


 
 
ELEIÇÕES DE 20.02.2005
 
 
 
Elejo?
Não elejo?
- Eis o dilema!
Por quem me rejo?
Me regerei?
Que faço ao tema?
Me absterei?
 
 
Muitos já houve,
Estiveram lá;
Mas isto está
coisa que louve?
Ora abóbora!
(Abóbora...ou couve)
 
 
Votar em branco?
-Decerto não!
Se eles lá estão
Sempre atamanco
Alguma cruz...
 
 
Mas, ai Jesus!
Uma cruz onde?
Quem me faz luz?
Ninguém responde?
 
 
Abrem-me portas
e santanices
e socratices
e outras promessas...
 
Coisas direitas
ou coisas tortas?
Tudo ali vejo
(Também maleitas?)
Ah!... Irei nessas?
 
 
-Bem... meu desejo
É ver programas
E cumprimentos.
Alguém me dá
esses alentos?
 
 
Não é caírem
essas promessas
lá para as lamas
dos esquecimentos!
 
 
Ele há depois
uns pequenitos
que coitaditos
nunca lá chegam...
Mas bem se entregam
com devoção
e fazem boa
oposição
 
 
 
Votarei nesses?
-Não sei... vou ver...
Os meus interesses
quero defender
Ou voto útil...
Ou qualquer coisa...
 
 
Nada de fútil!
 
 
Mas não me poisa
a minha mente
(Bem, até fecho
das eleições,
hesitações
irão embora…
E nessa hora
em que lá for
eu hei-de ver
o que é melhor)
 
Mas, por enquanto,
Sem que já tome
a decisão,
vou almoçar
-Estou cheio de fome
até mais não!...
 
 
Joaquim Sustelo
 
20.02.05
 


 
ELEIÇÕES E DANÇA DO PODER
 
 
 
Falou de modo terno. Era Governo
Falou com convicção. Ao coração
E prometeu-nos mundos. Também fundos
Mas nada nos chegou. Pois abortou
Morreu tudo em segundos. Esses mundos
Só resta a decepção. Desilusão
Foi tudo o que ficou. O resto andou
 
 
Mas como Oposição, disse contudo
Que voltaria ainda a fazer tudo
 
 
Porque é que eles prometem... Depois metem
Palavras na gaveta? -Tudo é treta!
Que a gente fica à espera. E desespera
E só vêm desgostos. Mais impostos...
Por isso fico "bera". Viro fera
Não quero ser muleta. Vai careta
Pois vejo nos seus rostos outros gostos
 
 
E já foram Governo, quase todos
Tá um País moderno? Tenham modos!
 
 
Sobre isso o que é que acho?  Vejo "tacho"
Vejo o gosto ao poder. De o exercer
Aos grandes... alianças. E andanças
Que por não ser bonito, aqui omito
Contudo tenho esperanças em mudanças
Votei, fiz o dever. E fi-los ver
Já sabem se acredito...
                                   E tenho dito.
 
 
Joaquim Sustelo


 
HUMOR (FÁBULA DA RATA)
(adaptação)
 
 
Em tempos que lá vão e muito idos
Havia uma ratinha muito tosca
Que tendo fome pôs nos seus sentidos
Comer certo manjar... pequena mosca
 

Um mocho adivinhando aquela cena
Logo aconselha, muito sabedor
"Não comas inda a mosca, que é pequena
Pois poderás comer coisa maior
 

Ela irá ser comida por abelha
E rápido vais ver, não tarda nada...
Comendo essa, maior e mais velha,
Tu ficarás melhor alimentada"
 

Então chega a abelha e a mosca come!
A rata, bem de perto, estava a vê-la…
Começa a ficar fraca, com mais fome
Fita a abelha e vai para comê-la
 

Mas logo o mocho torna, conselheiro:
"Não comas a abelha, espera um pouco!
Em "teia" há-de ficar, no seu roteiro
Comida por aranha... vai ser louco!
 

E essa comerás!"  - Ela concordou.
A aranha vem... papa a abelha presa;
A rata, do conselho se lembrou
"Cá tenho a minha aranha..." Põe a mesa...
 

Mas logo o mocho torna: "Espera aí!
A gente tem de ter sempre mais manha...
Não tardará um pássaro, por aqui
Fará o seu almoço, dessa aranha!
 

E comerás pássaro, que comeu
Aranha, que comeu também abelha
Abelha que com mosca se lambeu
Tudo em tua barriga se emparelha"
 

E a pensar na grande barrigada
A rata aguarda o pássaro, que vem
Comer a aranha ali, duma assentada
Naquela agilidade que ele tem
 

Mas depois quis o tempo que chovesse...
A rata vai-se ao pássaro... nem olha!
Escorrega... que foi tanto impulso esse
Cai numa poça de água… ela se molha
 

Qual a moral da história, perguntais?
Bem, ela é bem clara, aqui espelhada:

- Quando os preliminares são de mais
  A rata vai ficar toda molhada.
 
Joaquim Sustelo
HÁ FOME NO MEU PAÍS
 
 
Li no jornal
um de renome:
"Em Portugal
há muita fome"
 
 
Nada perplexo
(eu já sabia...)
Mas mais complexo
Do que parecia
 

Fome, ela em rostos
que têm nome...
E que desgostos
que traz a fome!
 

Desempregados
sem seu salário
desapoiados
triste fadário!
 

Dessas políticas
mal conduzidas
que faz raquíticas
as suas vidas
 

Magras reformas
para os velhotes...
Mas outras normas
dinheiro aos potes,
 
 
aos que "navegam"
por grandes cargos
Para estes chegam,
esticam encargos...
 

Façam um fundo
que eu contribuo!
De ajuda ao Mundo
nunca me excluo!
 

Que pague impostos
quem tanto foge!
Mostrem seus rostos
Há dramas hoje!
 

E é preciso
Darmos ajuda
Pouco, o sorriso…
Mas o pão, muda!
 

Nosso "Primeiro"
Eu tenho esperança
Seja ligeiro
Nesta mudança!
 
 
 
 
Que quem governa
deve saber
que esta interna
miséria ter
 

não dignifica
nem é pacata...
O corpo estica!
A fome mata!
 

Joaquim Sustelo
21.03.2005 (Dia Mundial da Poesia)
  
O POLÍTICO E O BURRO 
 
Entre político e burro
Será que há relação?
Eu vejo burro casmurro
Vejo político burro
Como distinguir então?
 

Semeia o burro e bloqueia
(Ou lavra... e semeia o dono)
O outro também semeia
Chega ao Governo bloqueia
Deixa o povo ao abandono
 
 
Que esperar das artimanhas
Dum e doutro em seu surgir?
Um tem manhas outro manhas
E as burrices são tamanhas
Que é difícil distinguir
 

Que a política é a porca
Onde muitos vão mamar
E tal como o burro, a porca,
Político... tudo emborca
O tacho que lhe vão dar
 

Perdoem-me esses honestos
O satírico escrever
Havendo-os, que venham lestos!
Nem a todos, os cabrestos,
A gente pode meter ...
 

Joaquim Sustelo


 
OS NOSSOS HERÓIS
 
 
 
É linda de se ler, a nossa História
Que deslumbra em diversas gerações
Sustendo com bravura as invasões
Foram vezes sem conta, de vitória
 

E esse grande feito na memória
Sem paralelo?... Os Descobrimentos?
Que mesmo querendo ver certos intentos
Rendeu-se o Mundo inteiro a essa glória!
 

E hoje? - Os cientistas vão-se embora
Por falta dos apoios dos Governos...
Cultura... a mesma coisa, ou nem promessas…
 

Quais são então nossos heróis agora?
Políticos? Talvez... e mais modernos:
Mentem... e há quem vá ainda nessas...
 Joaquim Sustelo
  
INJUSTIÇAS
 
 
Neste Mundo injusto, louco
Há tantos que ganham pouco
E alguns que ganham tanto!
E inda há quem convença
Muitos, ao dizer que pensa
Que tal Mundo é um encanto
 
 
Nuns sítios, sem ver razão
Para tantos não há pão
E a fome sentem e choram
E com discursos amenos
Impávidos e serenos
Falam ricos que os exploram
 
 
Plos pobres fingindo apreços
Políticos em congressos
Mostram preocupação
Depois fazem pouco mais
E até se aliam aos tais
Que praticam exploração
 
 
E quem resolve o problema
De sustentar o sistema
Quem são os que ficam expostos?
Os de ganhos controlados
Porque muitos abastados
Esses fogem aos impostos
 
 
Arranjem processos justos!
Que os ricos tenham mais custos
E explorem menos os pobres
Quando andam em campanhas
Fazem promessas tamanhas
Só nas promessas são nobres?
 
 
Joaquim Sustelo


 
FALAR DE…
 
Falar de Portugal? Gosto... o de outrora
Sua História me deixa deslumbrado
Falar de Portugal, este de agora,
Aí já esse tema é complicado
 

Uma terra de génios e de heróis
Navegantes, escritores e poetas,
Ah pobre pensamento que te róis
Ao ver, de quem governa, algumas petas...
 

Batalhas contra grandes invasões
Em cada qual cantada uma vitória
Hoje, invadiram... levam-nos milhões
Que diferente que é a nossa glória!
 

Um Mundo a nossos pés, que nos sorriu
Sorriso... ou de inveja ou de respeito!
Riqueza que de nós sempre fugiu
Só a lugar da cauda há o direito
 

Resta-me ler então a História linda
Deste País que "deu mundos ao mundo"
E fazer um apelo... este ainda
Que tenho no meu peito, bem profundo:
 

Pessoas a quem damos nosso voto
Fazei pelo País mais que por vós!
Nem sempre honestidade é o que noto
E vede que esta Pátria somos nós!
 

E com força de querer, entusiasmo,
Leis justas, com correcta aplicação,
Poderemos sair deste marasmo
E honrar a linda História da Nação.
 
Joaquim Sustelo 
 
ERA UMA VEZ…
 

Era uma vez... (e o corpo se arrepia
Contando uma tal história triste assim...)
Um cantinho do Mundo onde existia
Um povo que tratava dum jardim
 

Jardim à beira mar... jardim tão lindo
Que ainda tinha o cheiro a maresia
E o trato num desvelo que era infindo
Era feito a sorrir, com  alegria
 

Povo  feliz, de boas tradições
Com séculos de História tão bonita
Não era muita gente… alguns milhões
Mas em serena paz já que acredita,
 

Que o ser que se aproxima é um irmão
E assim deve ser visto na verdade
E faz desse sentir um seu refrão
Que segue... com grande hospitalidade
 

Um povo de poetas, de escritores
De heróis, de marinheiros, navegantes
Alguns nesse jardim plantavam flores
Outros foram a terras mais distantes
 

Aqueles, junto a estes, já trazendo
À pequenina terra a mais-valia
A foram pouco a pouco enriquecendo
E um jardim de sonho florescia
 
 
Havia também prata... havia o ouro
Que tinham do seu esforço amealhado
Jardim bem respeitado, era um tesouro
Um pouco de terreno... mas um Estado!
 

Um dia o povo, em todos confiando,
Começa a distrair-se e a não ver
Que um grupo de gentalha como um bando
Cobiça-lhe as riquezas, sem dizer
 

E vende o ouro... E tributa o resto
Tornando à sua volta tudo pobre
Depois noutros decretos surge lesto
E suga...leva mais... que nada sobre!
 

Assim nestas maldades e andanças
Alguns perdem emprego e vem a fome
Mas outros, o inverso! Fartas panças
Põem dinheiro a salvo e ganham nome!
 

Pobre jardim… de flores e de plantas…
Perdeu-se aquele aroma que inebria...
Sugaram-lhe as riquezas... e eram tantas!
              E o povo?
                             - Confiando, adormecia...
 Joaquim Sustelo
  
 QUE PENSAS MEU PAÍS?
 
  
Que pensas meu país deste teu rumo?
Que pensas de quem hoje faz a História?
Que roubam o que tens, até da glória
Quase apagam a chama e fica o fumo!
 
 
Que pensas? Vês a falta do aprumo
E vês por tanta vez a vilanagem!
Os corruptos são tantos, ladroagem
Que leva do melhor, o puro sumo!
 
 
Que pensas? Tu que acatas o que fazem
Sofres a toda a hora as injustiças
De leis que de equidade nada trazem
 
 
E calas... tu não vês ou são preguiças? 
Mas olha que teus filhos já aqui  jazem
Com fome, em desemprego, orando em missas...
 
 
Joaquim Sustelo
  
SOU DUM PAÍS ADIADO
 
 
Sou dum País adiado
Da terra do faz-de-conta
Não há reformas de monta
O que foi bom é "passado"
 

Já não sei se isto é um Estado
Que o estado a que isto chegou
Será que  modificou
O conceito estipulado?
 

E não sei se vale a pena
Acreditar na mudança
Vem um e outro e a esperança
Cada vez é mais pequena
 

Mas esta gente é serena
Pois sofre e não se revolta
E se algum grito já  solta
É por  já  ir triste a cena...
 

Sempre os mesmos a pagar
A crise que cá se instala
Governos, ninguém se  rala
Com quem se anda a esquivar...
 

Reforma? Aumenta a idade
Para poder atingi-la
Mas para alguns, adquiri-la,
É tudo  facilidade...
 
 

Tristeza!... De que nos vale
Um lindo país ao sol?
Olho o exemplo espanhol
E não peçam que me cale!
 
 
Na Espanha há mais altos ganhos
E muitos preços mais baixos
E nós aqui cabisbaixos
Vemos comer...( os  "rebanhos")
 
 
Que sugam, sugam, não param
Já tiram quase a camisa!
Que futuro se divisa?
Que país é que preparam?
 
 
E oiço às vezes dizer:
Políticos... temos bons!
Que sabem e têm dons
Competência pra fazer!
 
 
Economistas? Jesus!!!...
Temo-los inteligentes!
São elogios frequentes
Que já a pensar me pus:
 
 
 
Há que louvá-los? Eu louvo!
Mas com isto mau assim,
O que é que tenho pra mim?
Que a culpa será do povo…
 
Joaquim Sustelo

O MEU ESPELHO
 

Olhei-me no espelho
Vi rugas na pele
Vi ares de velho
Tive pena dele...
 

Sim, que não aprovo
Por muito que tente,
Não me ver mais novo!
O espelho é que mente!
 

Já nem me aconselho…
Presta um mau serviço!
Ele é que está velho
E penso que é disso
 

Que há um tempo atrás
Quando me mirava
Via-me um rapaz
Tão jovem me achava...
 

Como é que ele agora
Me faz isto a mim?
Vou deitá-lo fora
Não o quero assim…
Joaquim Sustelo
  
ELES VINHAM MANSINHOS
 
 

Eles vinham mansinhos com promessas
Correram "seca e meca" apregoando
"Amigo vota em nós tu não te esqueças
Que o País já se encontra agonizando"
 
 
Nós somos os melhores! Nem há meças!
Os outros só andaram destruindo
Amigo tu verás calmo, sem pressas,
As tuas alegrias emergindo!..."
 
 
Impostos... não mexemos! Fica igual...
Os "boys" nós nem sabemos o que é isso
A solução que temos,  especial,
Traremo-la até ti como um feitiço"
 
 
Ganharam logo aos outros na disputa
E foram prá cadeira cobiçada...
Mas com a maioria  absoluta
Tal qual esse que dita... e ouve nada!
 
 
O défice omitiram, não sei bem
Como  é que o "outro amigo" não  sabia
Que nesse lugar chave sempre tem
Controlo do que há, e do que havia...
 
 
E então lá vem o espanto: quase "sete!"
Quando não nos toleram mais que "três"
E o tal amigo volta... então repete
"Há que mexer em  tudo de uma vez!"
 
 
E vem o IVA e lá vai pra cima...
E aumentam a idade da reforma...
E os "boys", doze por dia, lá se arrima
E o combustível sobe já sem norma...
 
 
E até aquela gente "pequenina"
De aspecto amarelinho tão esquelético
Irá pagar já parte da insulina
Que ninguém manda aqui ser diabético!
 
 
E o povo vai votando mas o cerne
Desta questão será que não o vê?
Ora um ora outro, são de alterne
Os que mandam em nós... e digo até
 
 
Que enquanto cometerem sacrilégios
De aos mesmos exigir sem ir a outros
Ou mantiverem certos privilégios
Pois julgam que não vemos (que marotos!)
 
 
A solução jamais é encontrada
Alastra a injustiça, tudo inunda...
Políticas assim darão em nada
Diferenças? Só no povo... que se afunda. 

Joaquim Sustelo

ARDE O PAÍS...
  
Neste final de tarde
o país arde
Um destruir, pela chama,
do "jardim"
Da Natureza o drama
ao ter assim
as árvores tombando
em desalento
 
 
E no calor que faz
(que nem há vento...)
os soldados da paz
as chamas apagando
já não têm comida
(vai-se noticiando...)
e arriscam no trabalho
a própria vida
 
 
O pequeno "retalho"
se consome
Desse jardim que foi
já perde o nome...
Em nome dos interesses
inconfessos
e da maldade desses
de espíritos possessos
 
 
Possessos de maldade
e tanto ódio
que sabem que queimando
ganham pódio...
 
 
Madeiras mais baratas
Oh! Cifrões!
Compradas nas pacatas
povoações
Ou outra situação
em perspectiva
aquela construção
o loteamento
que a sua aprovação
tanto motiva...
 
 
E o povo
em desalento
que devia ter direito
a um maior respeito
solta um grito de dor
pelo problema
 

E mais não pode
E mais não diz
  
E enquanto nesta hora
sai dorido poema
tristemente lá fora
arde o País. 

Joaquim Sustelo

O TÓ E O SOM 
O Tó tem uma história muito "gira"
Que vou contar aqui muito lampeiro
Não sei se é verdadeira se é mentira
Seu carro "pifou", frente a um mosteiro
 
 
Bateu à porta, um monge o atendeu,
Contando logo Tó o sucedido
Passou lá todo o dia, até comeu,
Pois foi  tão lindamente recebido!...
 
 
Chegou a noite… mais!... Foi convidado
Para dormir num quarto do mosteiro
É claro, sem o carro, por "pifado",
O Tó aceitou logo prazenteiro
 
 
Um som pela manhã ao acordar
Ouviu... era tão lindo e perguntou:
"Oh monges, o que estou a ouvir tocar?
Que som é este que assim me acordou?"
 
 
E um lhe respondeu "o som que ouviste
Que nos chega baixinho, vem de longe…
Mas não te vou dizer,  nem fiques triste
Não te posso contar,  não és um monge..."
 
 
Assim desapontado e pesaroso
O Tó seguiu então o seu caminho
Até que anos mais tarde, curioso,
Regressa a perguntar com mais jeitinho:
 
 
"Eu fui da outra vez tão bem tratado
Não esquecerei jamais tal gentileza
E como sou um homem comportado
Falem daquele som, dessa beleza..."
 
 
"Eu sei, ele é tão lindo, vem de longe..."
Responde logo um monge ali de novo
Mas não te vou dizer, tu não és monge,
Se bem que querer saber, isso te louvo"


 
Pró Tó já se tornara uma obsessão
Partiu e foi estudar para bem longe
Não sem anunciar a decisão
De vir a se tornar também num monge
 
 
Estudou dezassete anos e tornou-se
Monge... e o mosteiro foi visitar...
Soube quem era o líder, abeirou-se,
Para saber do som que ouviu tocar
 
 
O líder o conduz por tantas portas
De prata, de esmeraldas, até de ouro!
Até que o monge Tó já forças mortas
Chega junto do som... oh que tesouro!
 
 
 
 
E fica deslumbrado, se extasia
Perante aquele som suave e lindo!
E permanece ouvindo o santo dia
Com toda a atenção, carinho infindo...
 
 
E sabes meu leitor qual esse som
Que chega tão baixinho e vem de longe?
Não te posso contar, não tens o dom
De ser como é o Tó... não és um  monge... 
Joaquim Sustelo 
 
(Com um beijo para a minha grande amiga Cecília, que colocou num Grupo de poesia da Internet a história em prosa, da autora Lídia Eugénia (uma vénia especial para ela). Tive logo a tentação de a adaptar para poema.)
 
MARAVILHAS
 
Cruzaste-te comigo em plena rua
Sorriste... eu te sorri do mesmo jeito
Num corpo escultural de tão bem feito
Pensei... que bom, por baixo ela vai nua!
 

O passo se me tolhe... até recua
Olho mais uma vez cambaleando
Trejeitos dessas formas meneando
Oh céus, tanta beleza que é a tua!
 

O rosto... ai esse rosto... ele é tão lindo!
Não sei se vou esquecer ou se anos findo
Em êxtase que tenho tão profundo...
 

Em ti tudo é esplendor pois tudo brilha
Serás tu a oitava maravilha
Depois daquelas sete que há no Mundo?
 
 
Joaquim Sustelo
  
NADA DE NOVO 
Doze de Agosto
Dois mil e cinco...
Afago o rosto
Sorrio, brinco...
 
 
- Olá Maria!
Já acordada?
(Esta alegria
De a ver deitada...)
 
 
Beijo na face
Dou com ternura
(Que o outro dá-se
Mas noutra altura...)
 
 
-Vais trabalhar?
Tá lindo o dia...
Eu vou ficar
Na poesia
 
 
Mais um bocado
A porta abriu
Passo apressado
Ela saiu...
 
 
Olho no espelho
Cara ensonada
Vejo-me velho
Não gosto nada
 
 
Barbeio... visto...
Tempo de sobra
Vamos a isto!
E mãos à obra
 
 
Ando, tropeço,
Vou à cozinha
O leite aqueço...
A torradinha...
 
 
Ligo o "PC"
Vejo as mensagens
Comento até
Faço triagens
 
 
Depois me canso
E vou à rua
É um descanso
Que apazigua
 
 
Compro o jornal
Bebo o café
Mas  afinal
O que se lê?
 
 
Bomba que explode
E mata cem
Mas diz quem "pode"
Que o fez por bem,
 
 
Pra que se veja
(Forma "perfeita!...")
Que se deseja
Justiça feita
 
 
Noutro cantinho
Notícia sai
A do filhinho
Que mata o pai
 
 
-Rapaz tão louco!
-Como é possível?
- Nem tinha um pouco
De baixo nível...
 
 
Preços... Petróleo?
É crise...ou "mina?"
Sobe o gasóleo
E a gasolina
 
 
Olha-me o IVA!
Há mais receita...
Mas quem se esquiva
Por lá se ajeita...
 
 
Algarve cheio
Gente de férias
Jornal a meio
Vejo as galdérias
 
 
O olhar levanto
(Se desconcentra...)
Vejo com espanto
Alguém que entra:
 
 
-Tás bom ó Zé?
(Aproximei-me)
-Como é que é...?
-Divorciei-me...
 
 
-Sabes, o Chico
Que se embriaga
O mafarrico
Já nem me paga...
 
 
- Olha a Zulmira
Foi ao mercado
E vem tão "gira"
Que penteado!...
 
 
E o Benfica
Que nem ganhou?
Não tem genica
Bem se esforçou
 
 
Dobro o jornal
Pago o café
Deixo o local
E sempre a pé
 
 
Tá cá uma brasa…
Calor... não posso!
Regresso a casa
Faço o almoço
 
 
A tarde chega
No santo dia
E há mais entrega
À poesia
 
 
Vem a mulher
Tão esbaforida...
Oiço-a dizer
-A mesma vida...
 
 
Deixo-me estar
E nem me movo
A  comentar...
A ler de novo...
 
 
A  volta é tanta
(Isto é um vício)
E vem a janta
E o sacrifício...
 
 
(A picadela
De agulha fina
Faz falta ela...
... A insulina )
 
 
Depois o sono
A cama espreita
Seu a seu dono
Vou desta feita,
 
 
Prás energias
Eu me renovo
E nestes dias
O que há de novo?
 
 
Doze de Agosto
Dois mil e cinco
Enxugo o rosto
Digo e não brinco:
 

De novo? Nada!
Mesma toada
Em tanto tema...
- Só se o ter feito
Mesmo sem jeito
Este poema...

Joaquim Sustelo
12.08.2005
 
JESUS E OS SEUS ENSINAMENTOS
 
Jesus Cristo nas Suas pregações
Transmitiu sempre bons ensinamentos
Escutavam, extasiadas,  multidões
DEle, aos seus corações, vinham alentos
 

"Amai-vos uns aos outros" Ele disse
Que lindo ensinamento nos deixou!
Mas o entendimento, que chatice!
Vejam como é que o mundo utilizou:
 

"Armai-vos contra os outros" perceberam
Os que albergavam ódios em seu peito
Partiram para as guerras que fizeram
E fazem... e farão... sem um respeito...
 ~

"Armai mas é os outros" alguém  pensa
Que foi uma tal frase... a proferida
E ama a mulher alheia numa ofensa
Até a do amigo... na saída...
 

"Amai-vos uns aos outros", também viram
Alcance nessa frase especial
As lésbicas, os homens que se "atiram"
Aos outros... é o homosexual
 

É certo, ele há depois esses sobrantes
Nos quais eu me situo e muitos mais
Sendo do sexo oposto bons amantes
E dos amigos, gestos... dos leais
 

Mas penso que o diferente entendimento
Dos que estavam com Cristo, à Sua beira,
Mexeu com o amor, o sentimento,
Ou vejam isto como...  brincadeira. 
 
Joaquim Sustelo

UM DIA JÁ VELHINHOS
 
 
Um dia já velhinhos de cajado
(Adorno que esta vida nos promete)
No banco do jardim nós lado a lado
Diremos das histórias cá da Net:
 
 

"Recordas-te Jaquim, da matulona?
Que a tipa até nem era nada má...
E sempre com um ar de engatatona
Eu acho que ela queria vir pra cá..."
 
 

"E tu lembras amigo, a serigaita
Aquela de nariz todo empinado?
Um dia até lhe disse... Vai-te! Gaita!
Mulheres conheço eu por todo o lado!"
 
 

" E recordas a outra, a que escrevia
Poemas... que ela até se desunhava?
Mas eu dava-lhe sempre uma alegria:
Acabava de os ler... elogiava"
 
 

" E lembras-te da outra? O tal apupo...
Que a gente ali, nem sempre tudo acata!
Um dia a tipa corre-me do Grupo
Olha, fiquei pior que uma barata!"
 
 

"E lembras o poema que escrevi
Te disse... dediquei à tal magana?
Bem... estive inspirado! E logo ali
Ficou como Poema da Semana"
 
 

"E aquela Antologia onde entrámos?"
"Ah pois, a do Brasil, essa... pois é"
"Recordas-te do tempo que esperámos
Que os livros 'té par'ciam vir a pé?"
 
 

Será nossa a saudade nestas falas
E outras tantas no banco a conversar
Nem eu me vou calar nem tu te calas
Um dia já velhinhos... E chegar...? 
Joaquim Sustelo

 CONDENAÇÕES  
A alguém (questão de perigo)
É dado como castigo
Não se ausentar do País.
Mas muita gente afinal
Sem ter ido a Tribunal
Não sai... e vive feliz.
 

P'lo menos brinca! Parece...
Mas decerto que não esquece
Que tem sem imposição,
Tal qual o mesmo fadário
Pois lhe dá magro salário
Uma igual condenação.

Joaquim Sustelo 

PERGUNTO SÓ... 

Sou um comum cidadão
E havendo ou não razão
De crimes sou acusado:
Corrupção, peculato,
Por querer... por falta de tacto...
Mas sou... facto consumado! 
 

Aplica-me o Tribunal
Coacção por esse mal
Que é a prisão preventiva
Só que um "besouro" me informa
Contrario aquela norma
O corpo à prisão se esquiva  

E fujo, não ligo meia!
Vou viver pra Pátria alheia
Passeio-me livremente
Mantenho até o ordenado
Meu trabalho? Entrevistado
Pra mostrar razão somente 

Sem julgarem se houve enganos
Regresso ao fim de dois anos
De minha livre vontade;
Nada mudou afinal...
Sou ouvido em Tribunal
Ficarei em liberdade?

Joaquim Sustelo
 
  JÁ VISTE? 
Ja viste
cão e gato
em desacato?
(não me refiro
eu a nenhum
caso de raiva,
o mais comum)
 

Estou a pensar
naqueles tais
que têm brigas
especiais...
 

...em que cão rosna
vê-se a dentuça
a zanga mostra
naquela fuça...
...e gato eriça
todo o seu pêlo
e fica a vê-lo
- coisa castiça! 
 
Tudo ali fica
só exibindo
sua genica
se coibindo
de se atacarem
para a seguir
se apaziguarem 
 
Viste depois
ao fim de pouco
o amor louco
que há entre
os dois?  
 
Pois ternamente
se rebolando
os dois brincando
é tão diferente... 
 
Gato aconchega
junto do cão
os dois entregam
o coração 
 
Que não se sabe
o que lhes deu
só amor cabe
zanga morreu 

Já viste... tu?
Já viste... eu?  

Joaquim Sustelo
08.01.2005
 
NOITE DE NÚPCIAS DE DONA BALBINA 
Nascida em áureo berço e áureos tempos
Quiçá argênteo só, mas prata fina,
Com ancestrais ilustres, uns portentos,
Assoma ao Mundo a de... Dona Balbina
 

A sua excelsa, ínclita ascendência
Esmerou em toda a sua educação
Internatos mergulhados na excelência
Da palavra, do trato, da acção
 

Assim Dona Balbina foi crescendo
Qual pedra preciosa, qual rubi
Amores afastando que não sendo
De ilustre casta, não eram para si
 

Mas eis que se imiscui nobre Dom Lúcio
Na sua vida e pede-a como em prece
(Já cogitava certo um tal Confúcio
"Ou cedo ou tarde... quem é vivo aparece!")
 

Por entre grandes pompas e grinaldas
Soslaios de outras damas com inveja
Dos seus aneis de ouro e de esmeraldas,
Lá vai Dona Balbina prá Igreja
 

Dom Lúcio impaciente no altar...
Mas impecável porte e vestimenta!
E com a nobre gente a abrilhantar
Lá dão o nó em festa... e que opulenta!
 

A tarde foi de boda e de discursos
E vinham iguarias pelos pratos
Até que os noivos seguem seus percursos
Ou seja, finda a festa, vão aos actos...
 

”Balbina, esse seu corpo é divinal!
Enlevo de meus olhos tão sedentos!
Como ele me extasia ao natural
Agora sem pinturas e ornamentos!
 

"E vou ó minha amada possuí-la...
Mas é bem delicado o que lhe faço
Por isso fique quieta... bem tranquila
Receba seu amado em seu regaço
 

"Que seja só amor o que nos mova
Deixar que em nós a espécie multiplique...
Nada de vãs lascívias! Nesta alcova
Pense que vai ser mãe e calma fique"
 

E começou o acto... e vos direi:
Dona Balbina após alguns instantes
Envolta no prazer sem qualquer lei
Gritava como fazem as amantes
 
 
Dom Lúcio vendo aquele descontrolo
Luxúria transmitida em aparato,
Exige: Cale-me esse grito tolo!
Balbina! Dá-me cabo do miolo!
Apeio-me de si... cessa-se o acto!" 
Joaquim Sustelo 
 
GRIPE DAS AVES

Por muito que “traves”
A gripe das aves
Delas te afastando
Nem sempre reparas
Nas aves mais raras
Alheias ao bando
 

Actuam discretas
Bastante selectas
Têm experiência
Vão sacando os cobres
Dos bolsos já pobres
Levam-te à falência!

Joaquim Sustelo
 
ZOOLÓGICO 

Parece lógico
No Zoológico
Não há só bichos...
Puros enganos!
Há lá humanos
Nos seus cochichos 

Como cá fora
A toda a hora
Nós afinal
Sempre enxergamos
E até saudamos
Cada animal... 

Joaquim Sustelo 
 
MODOS DE PENSAR... 
Pergunta a professora entusiasmada
" Meninos... cinco pássaros num galho,
Vocês acertam num com uma fisgada
Quantos ficam depois desse "trabalho?"
 
 
"Nenhum", responde logo o Joãozinho
"É tudo tão normal, nem há bruxedo...
Além de me cair um passarinho
Os outros fogem todos com o medo."
 
 
"Tens razão" diz-lhe logo a professora
Que estava noutra conta a meditar
" Não era essa a resposta, muito embora
Eu goste do teu modo de pensar..."
 
 
"E eu posso perguntar, minha senhora?"
Lhe volve o Joãozinho bem disposto
"Claro que podes, vamos lá embora
Que te responderei com todo o gosto!"
 
 
"Três senhoras num banco de jardim
Comendo cada qual o seu gelado
E uma (faz o gesto) chupa assim...
A outra, essa  lambe… em todo o lado…
 
 
A última é esquisita, ou sei lá quê...
Agarra no sorvete e dá dentada!
Ó professora, como é que sei
Qual é das três senhoras a casada?"
 
 
A professora cora de vergonha...
A cara baixa ali, o olhar esconde...
Mas mesmo meio tímida e risonha
Ao aluno depressa ela responde
 
 
"Joãozinho, sei lá... penso talvez
Casada é a que chupa... é isso então?"
"Não professora! Outro juízo fez..."
Responde-lhe o maroto do João:
 
 
"Casada",  torna ele, "é a que tem
No dedo uma aliança... a brilhar...
Mas olhe professora que eu também
Gostei desse seu modo de pensar..."
Joaquim Sustelo 
(adaptado de anedota)
 
VERDADES ABSOLUTAS  (PARA DISPOR BEM) 

Olha esta ideia engraçada:
Se queres evitar filhinhos
Faz amor com a cunhada,
Só te nascerão sobrinhos.. 
2
  
Comestíveis serão todos
Os cogumelos talvez...
Mas não os comas a rodos
Que alguns só são uma vez!
 

 
Sê sempre bom com os filhos,
Molda-te bem ao seu estilo!
- Eles escolhem os trilhos
Que te levam ao asilo.
 
4
 
Careca... sem dentes... nu...
Foi um dia o meu nascer;
Por isso repara  tu:
É lucro o que me vier.
 
5
 
Amigos vêm e vão
Simples uns, outros adulam...
Mas vê como as coisas são:
Os inimigos... acumulam!
 6 
Dizem que o amor é cego...
Só o posso confirmar.
Muitas vezes, não o nego,
Preciso tanto apalpar... 

Não pode falar-se à toa
Mas pode dizer-se, em suma,
Que se a mulher fosse boa
Talvez Deus tivesse uma... 

O diabo, esse  tinha uma
Que só lhe causou transtornos
Confiança? Era nenhuma!
Por isso é que ele tem cornos. 

Sabes por que o pão se queima,
O leite vai, vai, entorna,
E a mulher se a gente "ateima"
A gravidez a adorna?
 

Tudo tem uma explicação:
É porque a dado momento
As coisas  estão... onde estão
E não se tiram a tempo. 

Alguns homens a meu ver
São poupados... não marotos
Poupam a própria mulher
Preferindo... as dos outros. 
10 
Fazem sempre desacato
Cada um por seu motivo,
Uma pedra no sapato
Ou areia em preservativo 
11 
Se deprimido estiveres
"Mais pra lá do que pra cá,"
Pensa nisto se quiseres
Pois resultado... isso dá: 
 
Que nada pois te desgoste
Nem que sofras um apupo...
Espermatozoide já foste
O mais rápido do grupo! 
12 
Amigo vê o que fazes!
Trabalha mal... o que interessa
Trabalhadores incapazes
Têm sempre uma promessa, 
 
De serem os promovidos.
(E dão-lhes essa alegria...)
De lugares bons, escolhidos,
Sem danos para a chefia... 
13. 
Como as nuvens são os chefes...
Vê que não te estou mentindo:
Se se vão, tu reconheces
Que até tens um dia lindo! 
14 
É o homem acusado
De atrás da mulher andar
Mesmo sem estar interessado
Em com ela se casar... 
 
Talvez seja até bizarro
Mas vê bem esta a seguir:
O cão anda atrás do carro
Sem pretender conduzir. 
15 
O "e-mail", sempre o prefiro,
Quer à carta quer ao fax
Antes quero "mail" com virus
Do que carta com antrax! 
16 
Hierarquias, prateleiras,
Têm sempre algo de fúteis:
As segundas, ou primeiras,
Se mais altas... mais inúteis 
17
"Futuro? De sonhos depende..."
Gosto deste pensamento!
Gostas também? Olha, aprende...
Vai dormir! Não percas tempo! 
18 
Vê esta verdade nua:
"GRIPE...como  AMOR!" Quem ama,
Traz uma e outro da rua
E resolve ambos na cama. 
19 
As mulheres, com seu encanto,
Mantendo os homens serenos,
Não perguntando elas tanto
Mentiriam eles menos. 

Joaquim Sustelo 
Estas "verdades absolutas", a que achei imensa piada, foram-me enviadas por um velho amigo de Viseu. Já as tinha visto em tempos na Net e são daquelas de que é difícil saber qual ou quais os autores. Por ter gostado tanto, fiz as quadras.)
  
UM FÁRMACO 

Dos olhos de minha alma vejo o mundo
Guerras e ódios, mágoas, ilusões...
E vem-me este desejo onde me afundo
O de insuflar amor nos corações 
 

De plantas naturais é oriundo
O fármaco que cura outras lesões
Mas falta-lhe o condão bem mais profundo
De dar amor e paz a multidões 
 

Se o Homem, que nos mostra inteligência,
Num desbravar do espaço... e a Ciência
Avança, se estudar ele resolve, 
 
O Mundo... tanta angústia que o preenche!
Com tanto do seu ódio é que ele o enche
Um fármaco de amor... não desenvolve? 
Joaquim Sustelo 
 
CÂNTICO DO "NÃO ÀS AUTO-ESTRADAS"
(Poema totalmente inspirado - até com partes iguais - no Cântico Negro, de José Régio) 

"Vem por aqui!"- dizem-me os Melos com um modo doce
Apontando-me o dedo às auto-estradas
E suas pistas,
Seguros de que seria bom que eu por lá fosse
Pagando essas portagens avultadas
Da empresa onde são  grandes accionistas 

Eu olho-os com olhos baços
Mas trocistas,
Como o pássaro de papo cheio
E enjoado
Olha de lado
Para os recipientes onde brilham as alpistas 

E a minha mente
A tais gestos fica alheia
Nunca lhes liga meia,
E nunca vou por ali... 

A minha glória é esta:
A de quem tem pouco dinheiro
E sempre teve...
Por isso a minha festa
É tentar às auto-estradas
Fazer greve 

Não! Não vou por aí! Só vou por onde
Me dá na real gana... e o volante
Já sabe outro caminho e não se engana
Ficando dessas pistas bem distante 

Se às coisas que sugiro
Tais como a redução no preço
Pelo menos a quem tem a Via Verde
Nenhum de vós responde
E sem essa resposta me retiro,
Porque se perde
Tempo a aliciar-me?
A tentar enganar-me?
Porque me repetis "vem por aqui?" 

Prefiro estradas velhas com buracos
Sujeito a transformar jantes em cacos
A "passar-vos" os meus poucos patacos
Ou seja, a ir por aí... 

Se um dia vim a este País
Foi para admirar as suas belas paisagens
Andar às voltas pelos montes
Parar aqui, além, beber água nas fontes
E viajar feliz...
(Coisa que não terei nas auto-estradas
Pois têm linhas
Mais rectas
E as rotas são directas
E apressadas) 

Como, pois, sereis vós
Que me dareis conselhos e coragem
Para deixar de ir pelos caminhos velhos
Onde aprecio, sem pagar,
E calmamente
A tal paisagem?
Coragem para fazer do meu dinheiro
Enorme espólio,
Pagando portagens caras
Bem mais que o próprio preço do gasóleo? 

Corre nas vossas veias sangue azul,
Diferente de nós!
E vós idolatrais os milhões
Enquanto eu ando e sempre andei
Nos meus tostões!
Correm-vos contas bancárias
Aqui ou na Suiça
E têm vidas extraordinárias,
Enquanto eu... Chiça!!! 

Ide, tendes as auto-estradas
Tendes dinheiro para a carestia
Que se pratica também nas áreas de Serviço;
Eu estou sem dinheiro
E sem disposição para isso!
Cá tenho a minha "tesura"
Levanto a carteira de dia ou em noite escura
E vejo-lhe ar a mais
Carteira, pra onde vais?
Dinheiro? Só por feitiço... 

Meu orçamento é que me guia. Mais ninguém!
Ainda tenho pai, ainda tenho mãe,
Que moram lá bem longe e estão já velhos
Mas eu que sou do povo, um pobre diabo,
Quando vou vê-los, ao fim e ao cabo,
Não quero aceitar vossos conselhos!
 

Ah! que ninguém se preocupe assim comigo...
Ninguém se faça tão... tão meu amigo!
Ninguém me diga "vem por aqui!"
Meu fim do mês é como vento que soprou
Que foi embora e nunca mais voltou
Ficando eu no tempo que sobrou...
No entanto, sei por onde vou,
Sei para onde vou,
Só que não vou por aí! 

Joaquim Sustelo
 
UM OUTRO NATAL 

Já li tantos poemas de Natal
Falando da criança, do mendigo,
Dos que não têm lar, dos sem abrigo,
Bem escritos, com carinho especial, 
 
Que creio estar esquecido do poema
O rico, o que tem muito, o dos milhões...
E penso cá pra mim, prós meus botões,
Esquecer tal gente assim, não é sistema! 
 
"Meu filho, tem aqui o seu Mercedes..."
"Olhe comprei-lhe um lindo apartamento..."
"Ofereço-lhe a viagem de momento,
Não vá ficar aqui entre paredes..." 
 
E quanta ternurinha também há
Em frases como estas e outras tais!
Decerto bem felizes seus Natais!
Nem sei se a gente até entenderá... 

Joaquim Sustelo
 
MOINHOS E ESTORNINHOS

Viessem Dom Quixote e Sancho Pança
Olhar a sementeira diabólica
De pás tão aguçadas como a lança
Nestes moinhos de energia eólica, 

Diria o segundo, sorridente:
"Aquela mancha escura... são estorninhos
Voando pra atingir terra mais quente;
Nas brancas... vês moinhos? São moinhos!
Vá! Toca-me esse burro! Anda prá frente!" 

Joaquim Sustelo 

DIA ESPECIAL 

Hoje é um dia
especial
porque é Natal 
Quem nunca me falou
já me cumprimentou
ali na rua 
Sorriso aberto
(Um amigo, decerto!) 
E o telemóvel continua
a receber mensagens
com beijos
 e bons desejos...  
(Lindas imagens
todas por bem
muitas de quem
de mim se esquece
e só noutro Natal
me aparece) 
Um coração apático
Torna-se simpático 
Uma euforia imensa
se adensa
em todo o rosto
que tem lá posto
lindo e rasgado sorriso

(Num outro dia
vejo,
não é preciso...) 

Hoje... até há tréguas
por ser natal!
Léguas a léguas
param-se contendas 
E há oferendas
(Coração cheio
e tão alheio
a todo o mal...) 
Lá de ano a ano
vem um Natal
e é sempre assim:
uma alegria
uma euforia
há um "contágio"
(vejo isso em mim...) 

Amanhã tudo desaparece:
quem me falou
ali há pouco
sorriso aberto
por certo
amanhã nem me conhece… 
E a guerra, essa,
Lá recomeça
O ódio aquece
Que Mundo louco!

Que hipocrisia!
Vem outro dia
O amor se adia
Tudo se esquece... 

Joaquim Sustelo 
 
ESTOMATOLOGIA (SÁTIRA DEDICADA) 
Consta que na ex- URS... a soviética,
(Vejam a ditadura, o que provoca)
Uma extracção de dente, uma esquelética,
Não se fazia! Ninguém abria a boca... 

E nas ocidentais democracias
Sempre se fez, sem ter qualquer problema
A boca abre-se bem, todos os dias,
Seguindo o democrático sistema 

Mas há entre os dentistas esses tais
Que estimam os euritos com tal zelo,
Vão lá... abram a boca! Se de mais,
Levam o dente, o couro e o cabelo!

Joaquim Sustelo 
 
CANDIDATOS COM AMNÉSIA 
Ele é, a Presidente, um candidato
Já velho, pela idade quase morre...
Rebaixa a bel-prazer, com aparato,
Um outro "cujo nome não (lhe) ocorre" (*) 

Nunca gostei de grandes trambolhões
Muito menos cair de uma falésia!
E falo desde aí com meus botões:
Não vou votar em quem... tem tanta amnésia!... 
Joaquim Sustelo 
Janeiro de 2005 _(*) frase do próprio
 
LINK/POEMA... POEMA/LINK 

Escondia-se o poema atrás do link
Decerto bem bonito... musicado?
Estou a falar a sério, não se brinque!
Talvez ele até fosse declamado... 

À vista, no papel, nada se via
Nem uma só letrinha do poema!
Mas um pequeno anúncio remetia:
- Clicava-se... acedia-se... o sistema 

Por um qualquer motivo... Atarefado?
(Que o poeta tem outros afazeres)
Apôs... mas só o link, bem estampado!
- Clica, vai lá dentro, e é se queres... 

Segui o que ali vi nas instruções
Cliquei  mas o sistema estava lento
Pensei cá para mim, prós meus botões:
Que pena, também vai faltar-me o tempo... 
Joaquim Sustelo
 
ENSAIOS... 
Na Rua da Escola, a escola encerrou
- Houve abaixamento da natalidade
Na Rua da Fonte, a fonte secou
- O preço da água... uma enormidade! 

Na Rua do Ouro, o ouro faltou
- Havia reserva mas já foi vendida
Na da Liberdade nada se alterou
- Há a liberdade! Faltou foi comida... 

No Largo da Luz, a luz apagou
- O preço da mesma... uma carestia!
Numa outra Praça o nome mudou
Passou a Tristeza, era da Alegria

Mudaram os Paços... esses do Concelho
E ao lugar "Belém", que lembra Jesus,
Acena-lhe agora um homem já velho
Que promete a todos acender a luz 

O povo assistindo... um ar de infeliz
Com um tal cenário no palco montado...
E segue o ensaio num pobre país
Já com certa inveja doutro mesmo ao lado. 

Joaquim Sustelo

 

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