SEPARAÇÃO...
Jota Há
Sei que quem estiver no
começo do processo não vai concordar com nada disso. Mas,
depois de algum tempo e, só depois disso, é que vai começar a
também notar e naturalmente irá concordar com a triste
realidade.
Você que só há alguns meses
está separado, já teve a oportunidade de notar quanto as
coisas duram quando se vive sozinho?
Claro que não! Comece pelas
coisas mais banais, por aquelas coisas que você sempre as
usou, mas... nem prestava atenção em suas marcas, usava-as por
que lá estavam e lá sempre estiveram. Exemplo: o sabonete, a
pasta de dente, duram... As frutas maduram... O pão
endurece... E, além de durarem: estragam.
O próprio tempo parece que
dura, mais lento, custoso... Mas, nem por isso envelhecemos
menos – pelo contrário: a gente mesmo parece que também se
estraga na solidão, nesta solidão mezzo culpa, mezzo
rancor que é o depois de todas as separações e só o entregador
de pizza é "teu companheiro inseparável...".
Porque até comer é triste:
ninguém gosta de cozinhar só para si – e então é sanduíche,
ovo, macarrão, tudo feito sem capricho e as pressas – ou pizza.
Pizza e comida chinesa...
A casa é esse vazio: mulher
quando parte leva tudo. Ficam os livros, alguns discos –
aqueles dois ou três que a gente cisma de ouvir só para se
provar que não está sofrendo, que a vida é assim mesmo, que
tudo acaba, melhor até do que se continuasse daquele jeito,
durando como duram as coisas na solidão, durando para se
estragar...
Tá: foi bom, foi lindo –
enquanto durou... E tudo bem: tem sempre um que sofre mais – e
não sou eu, não pode ser eu – mas isso também passa, como tudo
na vida passa e etc. e tal... Mas tira esse disco que também
ninguém é de ferro...
E aí volta o silêncio... O
silêncio que é o som do tempo se arrastando, durando... E
então, de repente, toca a campainha! Mas... Não, amigo... – É
só o entregador de pizza...
Depois amigo... Vem a
segunda fase – demora um pouco –, tempo para você, quase
interminável... Mas, essa outra fase existe é só aguardar que
ela vem.
Com a convivência dos
verdadeiros amigos: aqueles que não aconselham nem dão
palpites. Uma bela noite: eis a metamorfose, você se
transforma completamente.
Você olha pela janela e não
vê o céu. Tudo é nuvem e escuridão. Apesar dos ruídos, o
silêncio. Depois, o triste vazio. Vazio mudo e triste que te
arrebata. Mas você luta. Você sente que não pode e nem deve
ser obsorvido por ele. Você redescobre que é preciso viver, é
preciso amar, pois você existe.
Você sabe que existe, sabe
também que ela existe. Assim sendo, é preciso amar, mesmo sem
ela. Ela não está, mas está a vida.
O que é a vida? A vida é
tudo. E você, é o amor, é o universo. Você sente que é preciso
amar e viver, mesmo que ela não esteja, e que nunca mais
estará.
E a vida continua ainda
cheia de: amor através do infinito...
Tudo ama, tudo vive. Você
sente que deve viver, que deve tudo amar.
E assim amigo, fica
realmente provado: que a vida é uma sucessão de acontecimentos
inevitáveis...
Um abraço deste amigo.
Jota Há
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