Lá fora... cai a chuva indiferente

dançando nua, gelada e ondulante

invade-me o seu frio penetrante

e ensopa-se a minha alma lentamente

 

Baila com a chuva o meu imaginário

a valsa de ontem, memórias esquecidas

rodopiam sonhos, paixões adormecidas

pecados inconfessos, segredos dum diário

 

É um bailado grotesco, alucinante

vertiginoso, cruel, fantasmagórico

a um só tempo deprimente e eufórico

sombras chinesas numa tela esvoaçante

 

Lá fora...cai a chuva persistente

já mal a ouço, absorta em devaneio

de alma alagada, mente náufraga, sem freio

meu corpo enrodilhado e indolente

 

Lá fora... pára a chuva de repente!

E um odor a seiva, a pão, terra molhada

enxuga-me a alma e faz brotar a gargalhada

que devolve à vida o meu corpo já dormente

 

Nas asas do vento morno o passado foge

do porão da alma eu tranco as escotilhas

mudo o cenário, troco as sapatilhas

e volto para o palco, bailarina de hoje!  

 

Carmo Vasconcelos 

Carmo_E_Books

(In Antologia Literária/Cenáculo Literário Marquesa de Valverde/2002

Todos os direitos reservados a autora

Contacto da autora

 

 

 

 

webmaster@cecypoemas.com