Nas ruas estreitas de Minas
as lembranças
se escorrem.
São casas de pau - a - pique
chão de tijolo batido
é presépio iluminado
e um cheiro de pó de café.
É andorinha barulhenta
é silêncio de fiéis
é força
é coreto
é cultura
é barroco e folia de reis.
É fogão à lenha
é goiabada com queijo
pé-de-moleque e licor
gato andando nos telhados
e jardins tão bem cuidados.
É mesa farta todo dia
é rio São Francisco
quadro de santo nas paredes
o terço das quinze horas
e os casos de assombração.
É benzedeira cortando quebranto
é poesia de Drummond
é Tiradentes e JK
Alvarenga Peixoto
e minério que não tem fim.
Nas ruas estreitas
de Minas
há pedras e pés de Josés
e em cada caminhada
sente-se o cheiro da oração
e quase sempre falta rima
mas o que importa?
Se nas ruas estreitas
de Minas
encontra-se a solução.
Andarilha descalça (Cláudia)
direitos autorais reservados