COROA DE SONETOS

Por: Joaquim Sustelo

(Para quem não saiba, uma coroa de sonetos é composta por 14 sonetos,

em que cada soneto começa com o último verso do soneto anterior.

E em que o 14º soneto termina com o mesmo verso que deu início à coroa (1º verso do 1º soneto).

Isto é, a coroa dá a volta e acaba como começou).

Esta coroa de sonetos é inteiramente dedicada à minha mulher,

a toda a vivência que temos tido, desde o nosso namoro até ao criar dos nossos filhos

(que já saíram de casa).

Dar-lhe-ei o título de:

1
Sorrio-te na calma madrugada
Enquanto permaneces no teu sono
E apertar teu corpo ambiciono
Mas vejo-te a dormir tão descansada...


Às vezes cinjo o braço, um quase nada
Um querer sentir-te mais perto de mim
Na perna pouso a mão, suave... assim
Nem dás por ela estar em ti pousada


E penso no que foi bom conhecer-te
Na vida que foi nossa desde então
Nas voltas que já demos nós os dois


Em toda esta alegria de ali ter-te
E nesta paz da nossa união
Durmo também contigo assim depois...
2.
Durmo também contigo assim depois
E às vezes sonho coisas tão bonitas
Que sei... talvez devessem ser-te ditas
Já que foram passadas entre os dois


Oh, dia que nas voltas me destróis
Lembranças desses sonhos que já tive!...
Mas não levas AMOR, que ele em mim vive
Por muito que inda passem tantos sóis!


Que amor com uma linda companheira
Não é coisa que vá de qualquer forma
E fica... ele perdura em nossa alma


Vivemos esse amor a vida inteira
E tanto ele nos dá e nos transforma
Amor... com ele a vida é bem mais calma.
3.
Amor... com ele a vida é bem mais calma…
Recordarás de certo as discussões
Havidas entre nós, desuniões
Na cara o palavrão que a gente espalma


Depois vem o amor... e nossa alma
Nesse calor que dá o sentimento
Decide aproximar-se... é um momento
Tão lindo! A gente vem, tudo se acalma


De novo surge a troca desse beijo
Um chorar de alegria que nos chega
Amor a funcionar, que tudo agita


E nossos corpos caem de desejo
Em busca do amor na sua entrega
Essa glória de amar que é tão bonita!...
4.
Essa glória de amar que é tão bonita
Essa força bendita que inebria
Esse querer-te tanto, essa alegria
E este coração que em nós palpita


Vontade que na arte se exercita
De conseguir fazer sempre melhor
Este passar do tempo no esplendor
De nos querermos tanto, que se grita


Fazendo o nosso grito uma balada
Cantada tão suave a toda a hora
Mais linda do que vejo em sinfonias


Este viver contigo... esta toada
De termos aqui estado vida fora
Dos anos deste amor, as alegrias...
5.
Dos anos deste amor, as alegrias
Abafam os momentos menos bons
Toda a nossa vivência tem os dons
De saber encontrar as harmonias

Gostei e gostarei, tu já sabias
Entendes-me, eu também sempre te escuto
Deste amor dois rebentos são o fruto
Dos momentos das nossas sintonias

Trinta e três anos juntos! Os profanos
Que ignoram como é morrem de invejas
Não sabem…eles vivem dos enganos

Que seja eu feliz e também sejas
Que dure esta união por longos anos
Quero aqui estar e quero que tu estejas.
6.

Quero aqui estar e quero que tu estejas
Vivendo todas estas primaveras
Gostei dessa menina que tu eras
E agora já mais velha, que inda vejas,

Que após toda uma vida de pelejas
Em que já estão criados nossos filhos
Que a gente ainda segue os mesmos trilhos
Que sempre percorremos e desejas

Na calma, na ternura, na constância
Da fase que nos chega que é Outono
Que temos pra viver à nossa frente

Deslumbra-me este amor, esta fragrância
É como estar contigo assim num trono
E vejo um outro Mundo, tão diferente...
7.

E vejo um outro Mundo, tão diferente
Pois vi ao conhecer-te desde logo
Que nunca mais extinguiu de amor o fogo
E noto que até arde bem mais quente


Recordo um outro tempo… ainda a gente
Em sítios escondidos namorava
O beijo proibido então se dava
Nesse colar do corpo tão tremente...


Vontade havia já que nos brotava
Falava-se em casar, nas nossas bodas
Numa vida feliz, nessas certezas


Mas já injusta guerra me levava
Travando essas vontades todas... todas
Trazendo o nosso tempo de tristezas
8.

Trazendo o nosso tempo de tristezas
Naquele pensamento: "voltará?"
Que a guerra, de incerteza tudo “dá”
Não chegam, pra voltar, as nossas rezas

As cartas, nessas frases, nas purezas
Do nosso enorme querer e tão profundo
Inda estão na gaveta lá no fundo
Que nosso amor o é… de profundezas

Depois, lá num combate, o ferimento
Um apressar da vinda pois que ferido
Não dava pra na guerra prosseguir

Voltei numa surpresa... esse momento
Não ficará também por nós esquecido
Essa alegria havida... esse sorrir
9.

Essa alegria havida... esse sorrir
De estarmos nós os dois bem lado a lado
Pró tempo que se havia planeado
Casar e filhos ter, todo um florir...

Porém ainda à guerra havia de ir
Uns dias mas já poucos e voltava
E num dia feliz a gente estava
Nossas vidas juntando...o nosso unir…

Três anos decorridos nesse trilho
Vimos a Pátria livre de tiranos
E fomos também livres, que alegria!

Depois houve o nascer do nosso filho
Foi esse iniciar de muitos anos
O fruto deste amor acontecia.
10.
O fruto deste amor acontecia
Tal como ainda veio outro depois
Depois já não se era mais os dois
Mas quatro a habitar em harmonia

Eu sei... nem sempre a vida nos sorria
Eu sei... não houve sempre aquele acordo
De muitos contratempos me recordo
Depois tudo passava... a alegria,

Voltava para nós, ao nosso lar
Carinhos já serviam de agasalhos
Sorrisos eram nossas sobremesas

Lá fora sem também poder entrar
Ficava alguma agrura dos trabalhos
Da nossa profissão, as asperezas

11.

Da nossa profissão, as asperezas
Algumas nos vieram cá bater
Na minha, lembras bem, inda fui ter
Em distante local, outras surpresas

A ânsia de mudar... tudo certezas
Que se julgava ter naqueles anos
Voltar à terra-mãe...mas nos enganos
Ficaram noites frias, de durezas

E regressei ao lar, aqui fiquei
Passados longos meses e penosos
Em que, só o voltar, foi solução

Bem perto, tantos anos trabalhei
Por vezes eles bons e tão gostosos
E gravo tudo aqui no coração
12.
E gravo tudo aqui no coração
Dos filhos vi bem perto o crescimento
Apoio sempre dei nesse momento
Em que dar esse apoio era a questão

Uma palavra, um gesto, uma canção
Um ensinar de coisas 'té brincando
Uns anos que de amor foram passando
Em que filhos tratei como um irmão

Cresceram nessa paz, nesse ambiente
(Eu sei, alguma vez, algum barulho
Também ele surgiu, mas poucochinho)

E digo hoje feliz, bem sorridente
Dois filhos temos que são nosso orgulho
É lindo o percorrer deste caminho.
13.

É lindo o percorrer deste caminho
Etapas coroadas de ternura
Os cardos esmagados na doçura
E sempre junto a ti... nunca sozinho!

De ti sempre me veio esse carinho
O que tu sabes ter tão especial
E esquece se levaste então a mal
Se ainda te magoa algum espinho

Que peço já desculpa de tal acto
Por tudo o que te quero e sabes quanto
E é alto o patamar em que já estamos

Mas vejo… não existe em ti um facto
Que possa magoar-te e logo tanto…
Por isso nós aqui continuamos.
14.
Por isso nós aqui continuamos
Na paz do nosso amor embevecidos
Olhando esses caminhos percorridos
E estes por onde hoje ainda vamos


Não sei se a vida é longa ou se ficamos
Algum sem ter o outro muito tempo
Que a morte não nos dê esse tormento
Ficar aqui bem juntos desejamos


Às vezes penso nisto, em nosso "Outono"
E as horas vão passando tão depressa
Que o dia chega ao fim, não dou por nada


Depois é o dormir... e findo o sono
Acordo, ainda o dia não começa
Sorrio-te na calma madrugada.

Joaquim Sustelo

28.04.2005

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