Margaret Pelicano
Não reconheço mais minha rua!
Tão moderna, perdeu os ritmos da procela:
o corre-corre da 'baleia', brincadeira diferente,
que constava em uma pessoa conseguir apanhar
outro peralta atravessando a rua
que não conseguia se safar!
Tormenta maior era tomar banho nas noites frias
depois de brincar de baleia e pique-esconde!
O corpo quente, suado, o cheiro de cachorro molhado!
E a mãe gritava, dormir assim? Nem pensar!
Para o chuveiro, já!
e gente saia pisando duro, mas nada de reclamar!
Quase não vejo mais em minha terra,
essa tão linda aquarela: peões a rodar,
subir girando nos braços dos moleques,
passar pelos ombros, descer até a outra mão!
Um malabarista em eterna combustão!
Havia nos garotos aquele ar de artista em triunfo!
Pular corda, amarelinha, jogar pedrinha,
a boneca do lado, o carrinho de madeira embicado,
todos ao redor olhando, o líder querendo ganhar!
E o enterro dos animais de estimação?
Dentro da caixinha de sapato, flores do lado
e nossas lágrimas que não paravam de rolar!
Minha rua, as pessoas, nada mais é do mesmo jeito!
Porém, com todo respeito: os fantasmas estão ali a vicejar!
De tal forma intensos que me transfiguro só de olhar!
Vejo-me caminhando nas enxurradas, uma moleca,
sapeca, riso solto, de tanto brincar!
Que saudades de minha rua, aqui no meu pensamento a recordar!
Brasília - 20/01/2007